ACSM - American College
of Sports Medicine
(Tradução de artigos e textos do Colegio Americano de Medicina
do Esporte)
Modelo de progressão
no treinamento de resistência
Progression Models in Resistance Training for Healthy Adults - POSITION STAND
Introdução:
A habilidade de ganhar força fascinou toda a humanidade
através da história. Não só apenas grandes façanhas
estimulam a imaginação das pessoas, mas um certo nível de
força é importante para a sobrevivência do homem. Apesar
disso, a modernidade conseguiu reduzir a necessidade do uso de altos níveis
de produção de força nas atividades do dia-a-dia. É reconhecido
tanto nos meios científicos quanto médicos que a força muscular é uma
necessodade básica para se obter boa saúde, habilidades funcionais
e melhor qualidade de vida.
Grandes eventos e esportes já aconteciam desde 1800,
embora as pesquisas nesta área não evoluissem até o trabalho
de DeLorme and Watkins (46).
Após a II Guerra Mundia, DeLorme and Watkins demonstraram
a importância da progressão nos exercícios de resistência
para o aumento de força muscular e hipertrofia para os militares.
Desde meados de 1950 e 1960, o treinamento de resistência
tem sido um tópico de grande interesse no mundo científico, médico
e entre os atletas (19 21,31,32). O assunto de discussão entre eles é que
o programa de treinamento deve ser "progressivo" a fim de produzir
aumentos contínuos e substanciais de força e tamanho muscular.
A progressão foi definida como " o ato de progredir
ou avançar em direção a um objetivo específico" .
No treinamento de resistência, a progressão estimula a contínua
e variável evolução desejada com o tempo até que
o objetivo seja alcançado. Apesar disso, é impossível que
se continue uma progressão sob mesma proporção em um treinamento à longo
prazo, pois a própria manipulação das variáveis do
programa(escolha da resistência, seleção dos exercícios
e ordem, número de séries e repetições, período
de descanso), podem limitar os níveis naturais máximos de treinamento
(o ponto onde nenhuma melhora pode ser observada) e consequentemente dificulta
o alcance de altos níveis de hipertrofia muscular (236).
Características treináveis de aptidão
física podem ser também melhoradas com o treinamento de resistência,
são elas: força muscular, potência, hipertrofia e resistência
muscular. Outras variáveis são: velocidade, equilíbrio,
coordenação, habilidade de saltos, flexibilidade e outras medidas
de performance motora (3,45,216,238,249).
O aumento na participação em atividades físicas
envolvendo exercícios aeróbios, treinamento de resistência,
flexibilidade, mostrou-se como responsável pela diminuição
do risco de diversas doenças crônicas (doenças coronarianas,
obesidade, diabetes, osteoporose e dores na coluna lombar). O treinamento
de resistência aparece como sendo o método mais efetivo para o desenvolvimento
da força muscular e tem sido prescrita por muitas organizações
de saúde para a melhora da saúde e da aptidão física
(79,71,206,208). O treinamento de resistência quando incluído
em um programa de atividade física pode reduzir fatores de risco associado
com problemas coronarianos (84,86,126,127), diabetes sem dependência de
insulina (72,180), e câncer de colo (141); prevenir osteoporose (91,158);
manter e melhorar a perda de peso (56,135,251,259); melhorar a estabilidade dinâmica
e preservar as capacidades funcionais (56,79,138,235); além de favorecer
o bem-estar geral (59,235). Esses benefícios podem ser obtidos com segurança
através de um programa individualidade de exercícios (172).
De acordo com o position stand (consenso) do American College
of Sports Medicine, "a quantidade e qualidade de exercício recomendada
para o desenvolvimento e manutenção cardiorespiratória e
muscular e da flexibilidade em adultos saudáveis "o programa de treinamento
de resistência inicial foi estabelecido em: 812 repetições
para 810 exercícios, incluindo exercícios para os grandes
grupos musculares; e 1015 repetições para os mais idosos
e pessoas mais frágeis (8). Este programa inicial mostrou ser eficaz
em pessoas destreinadas para a melhora do condicionamento muscular durante os
primeiros 3-4 meses de treinamento (33,38,63,165,178). Porém, é importante
frizar que esta recomendação não inclue os exercícios
de treinamento da resistência para adultos saudáveis que queiram
progredir no desenvolvimento da força e variáveis da força
muscular. O propósito deste "position stand" é estender
esta orientação (guidelines) dada pelo American College of Sports
Medicine (ACSM) para iniciantes que desejam entrar em um programa de resistência
muscular e promover um modelo de progressão que possa ser aplicado em
indivíduos no treinamento de nível básico, intermediário
e avançado.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
DA PROGRESSÃO
Progressão da sobrecarga:
É o aumento gradual do estresse aplicado sobre o corpo
durante os exercícios no treinamento. A tolerância ao estresse da
sobrecarga é uma preocupação vital para o praticante e o
monitoramento da progressão do treinamento. Na realidade,
o processo de adaptação do corpo humano somente responderá se
houver um emprego de força para alcance das demandas fisiológicas.
Considerando as adaptações fisiológicas como um padrão
sem variáveis, um programa de resistência muscular pode ocorrer
em um período bem curto de tempo, embora seja necessário um aumento
sistemático das demandas empregadas sobre o corpo para uma evolução.
Existem diversas maneiras de introduzir sobrecarga em um treinamento
de resistência. Para desenvolvimento de força, hipertrofia, resistência
de força e potência o procedimento pode ser:
1) A carga (resistência) deve ser aumentada;
2) Repetições devem ser acrescentadas;
3) Velocidade das repetições com cargas submáximas
devem ser de acordo com o objetivo;
4) O descanso pode ser reduzido para melhora na resistência ou aumentado
para força e potência;
5) Volume (total trabalhado, representa o produto do número total de
repetições executadas e resistência) pode ser aumentada
dentro de limites de bom-senso ;
6) Qualquer combinação de todas acima. É recomendado que
pequenos aumentos no volume (2.55%) devem ser prescritos a fim de se
evitar o overtraining (69).
Especificidade:
. Existe um alto nível de especificidade nas tarefas envolvendo movimentos
e adaptações nos seres humanos (217) que envolvem tantos os padrões
de movimento quanto as características de força-velocidade (95,113,261).
Todas as adaptações são específicas ao estímulo
aplicado. As adaptações do treinamento são específicas
para:
1) ações musculares envolvidas (50,51,115);
2) velocidade do movimento(51);
3) amplitude muscular (15,144);
4) grupos musculares treinados(69);
5) sistemas de energia envolvidos no movimento (153,213,248);
6) intensidade e volume de treinamento (21,109,194,222). Porém, existe
uma soma de influência de treinamento.
O programa de resistência do treinamento considerado mais eficaz é aquele
que é direcionado para um objetivo.
Variação:
A variação no treinamento é um princípio
fundamental que sustenta as necessidades de alterações em um ou
mais variáveis do programa ao longo do treinamento e permite que o estímulo
se mantenha ótimo. Foi mostrado que ao variar o volume e intensidade torna
a progressão mais eficaz à longo prazo (241). O conceito de variação
foi desenvolvido universalmente nos programas por muitos anos. O termo mais usado
para uma variação do planejamento chama-se periodização.
Periodização:
A periodização utiliza variações
no desenvolvimento dos programas de resistência. Esta teoria foi baseada
nos estudos biológicos da síndrome de adaptação geral
de Hans Selye (224). A variação sistemática tem sido usada
como forma de alterar a intensidade e volume na otimização da performance
e recuperação (110,166,209). Porém, o uso dos conceitos
da periodização não são limitados em se tratando
de atletas de elite e treinamento avançado, mas tem sido utilizado com
sucesso como base de treinamento em indivíduos com diversos "backgrounds" e
nível de condicionamento físico. Além disso, o treinamento
específico de resistência periodizado mostrou eficácia também
em objetivos recreacionais e em reabilitação física.
Modelo clássico de periodização:
Este modelo é caracterizado pelo alto volume de treinamento
e baixa intensidade (239). Com o progresso do treinamento, o volume diminui e
a intensidade é aumentada para maximizar a força, potência,
ou ambas(68). Cada fase de treinamento é desenvolvida para enfatizar uma
adaptação fisiológica. Por exemplo, hipertrofia é estimulada
durante a fase de alto volume, ao passo que a força é maximizada
no final da fase de alta intensidade. Comparações do modelo clássico
de periodização de força/potência com outros modelos
não periodizados foram revistos (68). Estes estudos mostraram que o modelo
clássico foi superior no aumento de força máxima (e.g.,
1 repetição máxima
(1 RM) agachamento), potência no cicloergômetro, performance motora,
habilidades no salto (192,238,241,256,257). Porém,
estudos rápidos mostraram evolução similar na perfomance
periodizada e nos modelos não periodizados com múltiplas séries
(13). Foi mostrado que períodos longos de treinamento (4 semanas) são
necessários para beneficiar a periodização do treinamento
com parado com os outros métodos(257). Os resultados desse estudo demonstraram
que tanto os treinamentos periodizados quanto os não periodizados são
eficazes em treinamentos à curto prazo, mas variações
são necessárias quando se trata de treinamentos de resistência à longo
prazo.
Periodização Ondulada:
Este tipo de programa permite uma variação na
intensidade e volume em cada ciclo de 7-10 dias alternando diferentes tipos de
protocolos durante o percurso do treinamento. Este método tem a intenção
de treinar vários componentes do sistema muscular no mesmo ciclo de 7-10
dias. Durante uma sessão de treinamento apenas uma característica é treinada
por dia (e.g., força, potência, resistência muscular localizada).
Por exemplo, em um esquema de cargas para os principais exercícios, o
uso de resistência pesada, moderada e leve pode ser aleatoriamente utlizado
numa sequência de treinamento (segunda, quarta e sexta) (e.g., 35
RM, 810 RM , e 1215RM podem ser utilizadas em alternância ).
Este modelo foi comparado favoravelmente com o modelo clássico de periodização
e os outros métodos sem periodização (13). E mostrou vantagens
se comparado com os outros, em treinamento de baixo volume em mulheres(154,165).
IMPACTO DO ESTADO INICIAL DE TREINAMENTO
O estado inicial de treinamento assume um papel importante
na progressão do treinamento de resistência.
Ele reflete uma contínua adaptação no treinamento de resistência
como o nível de aptidão física, experiência no treinamento
e contribuição genética. Indivíduos destreinados
(aqueles sem experiência no treinamento de resistência ou aqueles
que não treinam há anos) respondem favoravelmente à maioria
dos protocolos, tornando assim difícil a avaliação dos
efeitos dos diferentes programas de treinamento (68,92). O nível de
aumento de força difere consideravelmente entre os destreinados e treinados
(148), pois os indivíduos treinados mostraram níveis mais lentos
de melhora (83,107,111,221). Na revisão de literatura o aumento da força
muscular é de aproximadamente 40% nos destreinados, 20% nos moderadamente
treinados, 16% nos treinados, 10% nos avançados, e 2% nos atletas de elite em
um período de 4 semanas à dois anos. Os indivíduos treinados
ou intermediários passaram por um treinamento de resistência de
6 meses . Os avançados são os que passaram por anos de treinamento,
mas que têm uma certa melhora muscular. O grupo de elite são os
altamente treinados e participam de competições.
Porém, os programas de treinamento, duração
e testes variaram. Estes dados nos mostram claramente uma tendência específica
em relação as taxas de progressão das características
treináveis com experiência no treinamento. A dificuldade
em continuar ganhando força parece ocorrer mesmo após diversos
meses de treinamento. Está bem estabelecido que mudanças musculares
em força acontecem com mais intensidade no início do treinamento(92,185). Pesquisas
que examinaram o tempo do ganho de força e outros tipos de protocolos
puderam provar este conceito. Estudos à curto prazo (11-16 semanas) mostraram
que a maioria do aumento de força aparece nas primeiras 4-8 semanas (119,192).
Resultados similares foram observados durante um ano de treinamento(185). Este
dado nos demonstra a rapidez do início do ganho de força em indivíduos
destreinados, mas também ganhos mais lentos nos dias posteriores.
CARACTERÍSTICAS
TREINÁVEIS - FORÇA MUSCULAR
A habilidade do sistema muscular de gerar força é necessário
para todos os tipos de movimentos.
Fibras Musculares:
Classificada de acordo com a contratibilidade e características,
mostram uma relação linear entre a área de secção
transversa e força máxima que podem gerar(66). Na musculatura,
a organização das fibras individualmente de acordo com seu ângulo
de tração, assim como outros fatores, como o comprimento do músculo, ângulo
articular e velocidade de contração, pode alterar a expressão
da força muscular (90,144). O desenvolvimento da força é dependente
da ativação da unidade motora(217). As unidades motoras são
recrutadas de acordo com seu tamanho (117). Adaptações desenvolvidas
pelo treinamento de resistência permitem um maior desenvolvimento de força.
Essas adaptações incluem o aumento das funções
neurais (melhor recrutamento, taxa de disparo (159,181,217), hipertrofia do músculo(6,170,232),
mudanças na arquitetura do músculo (136), e possivelmente o papel
dos metabólitos(215,226,230), para aumento da força.
O aumento de força é de acordo com a ação,
intensidade, volume, ordem de exercícios utilizada, descanso entre séries
e frequência do treinamento (245).
Ação Muscular:
A maioria dos programas de treinamento incluem inicialmente
exercícios dinâmicos com ações musculares concêntricas
e excêntricas, enquanto os isométricos são utilizados em
segundo plano.
Melhor força é produzida por unidade motora em ações
excêntricas (142), pois são consideradas mais eficientes (55,142),
com menor demanda metabólica (58), resultando em menor dor muscular
tardia se comparado com o trabalho concêntrico(52).
Há uma melhora na força dinâmica muscular
quando são incluídos ações musculares excêntricas
dentro das repetições(50).
O pappel da ação muscular durante o treinamento
de resistência é mínimo com relação a progressão.
Pois, ao se considerar a maioria dos programas que utilizam ações
musculares concêntricas e excêntricas com determinadas repetições,
não há muita variação dentro desta variável.
Porém, alguns programas avançados utilizam formas de treinamento
isométricos diferentes(128) juntamente com ações excêntricas
supramáximas com o intuito de maximizar o ganho de força e hipertrofia(139).
Estas técnicas não foram ainda muito pesquisadas mas parecem estimular
ativamente o aumento da força no treinamento de iniciantes, intermediários
e avançados. Portanto, é recomendado a utilização
de ações musculares concêntricas e excêntricas neste
trabalho.
0195-9131/02/3402-0364/0
MEDICINE & SCIENCE IN SPORTS & EXERCISE®
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