IDOSOS
A Questão da Socialização
A atual sociedade brasileira é eivada
de tabus e preconceitos que dificultam a participação
dos indivíduos envelhecidos, de forma integral,
nas atividades sociais, profissionais, físicas e de lazer.
Na luta que travamos pela valorização dos gerontes,
sem assistencialismos ou paternalismos, devemos partir em busca de instrumentos
que possam provocar a vontade de lutar, o desejo de viver melhor, de exercer
sua cidadania plena, provando que tudo isso é possível.
Com o envelhecimento, é comum o indivíduo sentir-se
só. Porém esse fato tem origem cultural. Na Europa, enquanto o
geronte é visto como experiente e sábio, bagagem essa acumulada
no decorrer dos anos (experiência adquirida), aqui no Brasil, ocorre justamente
ao contrário, sendo essa população rotulada como incapaz,
inútil e esclerosada, ou seja, o geronte é freqüentemente
visto como uma verdadeira mala sem alça e seus familiares
optam por abandona-los a própria sorte.
Existia no início do século passado e ainda existe,
uma falsa idéia sobre o envelhecimento. Era e ainda é considerado
por muitos, como algo ruim, algo doentio, limitando as possibilidades do indivíduo
exercer um papel na sociedade menor, que é a família; e na sociedade
maior, que é o espaço profissional.
Para isso, foram criados no fim do século XIX e início
do século XX, lugares para os familiares deixarem seus gerontes. Lugares
esses, que tiveram diferentes nomes, desde asilos, abrigos para velhos. E muitos
gerontes eram levados para esses lugares para esperar a morte chegar. No entanto,
muitas vezes a morte demorava, porque os indivíduos eram deixados lá por
estarem envelhecendo, mas não estavam tão doentes ou tão
comprometidos.
E nesses locais, principalmente na Inglaterra, passaram atuar
diversos profissionais que perceberam que havia indivíduos que poderiam
ser resgatados para a vida, para a família e para a própria sociedade,
desde que fossem submetidos a orientações e tratamentos mais específicos.
A partir daí, foram surgindo serviços ambulatoriais
para o envelhecimento, com a participação de médicos que
foram se direcionando para o conhecimento e acompanhamento do envelhecimento
(os Geriatras) e por outros profissionais que também fizeram a sua área
de aplicação no envelhecimento para benefício desta parte
da sociedade, e que passaram a ser chamados de Gerontólogos.
Faz-se muito importante esta consideração, pois
o Brasil, passou muito rapidamente, de uma situação de país
muito jovem para um país de cabelos brancos, necessitando cada vez mais
deste atendimento e que hoje, sensivelmente cresce.
À medida que o país vai ficando mais velho e
as pessoas vão durando mais tempo é preciso crescer a idéia
de que, o envelhecimento não é uma doença, mas um tempo
de fragilidade, de maior fragilização, propiciando alguns declínios
nas funções corporais e possibilitando o aparecimento de doenças.
Novos conceitos então, devem ser incorporados a essa
nova fase da vida pensando no envelhecimento como um processo dinâmico,
uma fase em que os indivíduos possam manter uma boa qualidade de vida
participando de grupos sociais e até manterem-se ativos em suas profissões.
Diversos estudos realizados nos últimos anos, têm
demonstrado que a longevidade depende de uma combinação de fatores.
Entretanto, ressalta-se que as variáveis no relacionamento social e psicológico
, prognosticam a longevidade com maior precisão que as variáveis
biológicas. A permanência em grupos sociais e um estilo de vida
mais ativo, com certeza estará influenciando para um envelhecimento biológico
mais saudável, assim como favorecendo um menor aparecimento das doenças.
Com a mudança de paradigmas em relação
ao envelhecimento, os termos velho, velhinho, vovozinho e vovozinha, cujo sentido
ficou pejorativo, devido ao mau uso, cederam lugar a termos novos - terceira
idade, mais vividos, melhor idade, idosos. No entanto, alguns especialistas preferem
outros termos - envelhecentes / gerontes. Termos estes, considerados mais coerentes
e mais adequados ao estado do indivíduo que se encontra nesta nova etapa
da vida. Martinez já em 1997, relatava que a expressão terceira
idade, não indica, muitas vezes, a qual segmento etário está se
referindo.
Devemos orientar nossos gerontes que, essa nova etapa da vida,
não é para se viver de reminiscências, morrendo de saudades
e lamentando o que se deixou de fazer. Mas é um período para se
aproveitar junto com os filhos ou netos, revivendo com eles as emoções
de cada momento novo de suas vidas.
A aposentadoria. Em muitos casos, ela contribui para um sentimento
de inutilidade, freqüentemente observado no geronte, pois muitas vezes,
ele fica em casa sem ter o que fazer e também sem as amizades naturais
do ambiente de trabalho, tornando-se assim carente de amizades e elogios. Quando
começa a aposentadoria e as circunstâncias se modificam; afastamento
do emprego, a diminuição das responsabilidades e a mudança
da rotina de vida, as pessoas passam a perder contato com os papéis e
atividades sociais anteriores, promovendo uma desarmonia no psicológico
e como conseqüência, no organismo como um todo, de forma decisiva.
Embora os fatores fisiológicos e as doenças associadas à aposentadoria
empeçam que muitos gerontes participem de programas de condicionamento
físico e/ou outras atividades, são os desequilíbrios nos
aspectos psicológicos e sociais que levam a maior parte dos gerontes a
uma vida inativa.
Infelizmente, na atual estrutura sócio-econômica
do mundo ocidental, o consumo desenfreado é valorizado por uma massacrante lavagem
cerebral conduzido pela mídia e pelo marketing, capazes de modificar
valores e deformar consciências. Para aumentar as vendas, o novo é apresentado
como a solução de todos os problemas, a satisfação
de todas as carências e necessidades, o detentor do carisma, do status,
da qualidade. Possuir o novo é o que realmente interessa.
Por fim, os inputs que o geronte receberá da sociedade
são determinados pelo desinteresse que o mercado de trabalho tem para
com ele e pela segregação a que é relegado, em se tratando
de lazer ou outra atividade social (haja vista a carga pejorativa que a expressão programa
de velho, possui).
Assim, não fica difícil de se entender a desvalorização
da auto-imagem do geronte, o menosprezo por sua capacidade e com os preconceitos
sociais que procuram lhe ditar parâmetros de comportamento, em termos de
sexo, amor, atitudes e modo de se vestir.
Via de regra, quando se recebe um geronte num programa para
a terceira idade, ele trará, junto a sua carência afetiva, a frustração
com o desinteresse das pessoas e a segregação social que sofre.
Basta um mínimo de atenção sincera e uma pitada de carinho
genuíno para se conseguir um indivíduo motivado, interessado e
extremamente participativo.
Devemos ser formadores de opiniões, opiniões
da própria sociedade, a respeito do envelhecimento como uma fase natural
da vida e não como envelhecimento como um processo imprestável,
algo ruim, que não tem o que fazer. Necessitamos sensibilizar a mentalidade
vigente em relação ao indivíduo que envelhece e aos conceitos
do que é o envelhecimento.
E a partir daí, ter a certeza que, a melhor idade, é onde
cada um se situa. É aquela fase da vida onde conspiramos com nós
mesmos e acreditamos que... não é o mais FORTE, nem o mais
INTELIGENTE que sobrevive, mas o que melhor se adequar às MUDANÇAS.