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Sáb, 5/6/10 19:51

 

TORCIDAS ORGANIZADAS, SINÔNIMOS DE VIOLÊNCIA?


Christiana Pereira de Barros1
Luiz Fernando de Sousa Silva1
Tiago de Souza Costa1
Alice Almerita Machado Burkowski 2
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1 Acadêmicos dos Cursos de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora/MG.
luizfernando-ss@hotmail.com
, chris.nut@hotmail.com , tiagodesouzacosta@hotmail.com
2 Professora orientadora, docente dos Cursos de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery.
alicebkw@gmail.com

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RESUMO
    O presente trabalho é uma resenha crítica acerca do artigo “Origem, Evolução e Composição das Torcidas”, escrito por Fabio Aires da Cunha no ano 2003. A obra foi publicada pelo diário eletrônico Cooperativa do Fitness. E apresenta um pouco da história do fenômeno das torcidas organizadas, desde sua origem em Portugal no final do século XX até os dias atuais, expondo os motivos que levaram a inserção da violência neste ambiente, razões entendíveis, mas não plausíveis para a utilização de atos violentos pelas torcidas. Durante o mesmo serão apresentadas análises produzidas pelos discentes responsáveis pela resenha, além de opiniões de mais três autores, retiradas das obras: “Violência entre Torcidas Organizadas de Futebol”, “A Violência das Torcidas e Racismo no Futebol: O que a escola tem com isto?” e “Relacionamento entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros Femininos”.

1. INTRODUÇÃO
     O presente trabalho apresenta uma resenha crítica acerca do artigo “Origem, Evolução e Composição das Torcidas”, escrito por Fabio Aires da Cunha no ano 2003. A obra publicada pelo diário eletrônico Cooperativa do Fitness trata de um texto expositivo no qual o autor apresenta como tema as torcidas organizadas e, aborda desde sua origem em Portugal na década de 80 do século XX, com as torcidas uniformizadas, passando por sua evolução no decorrer da história, ilustrando as causas e conseqüências da inserção da violência nesta que deveria ser uma prática saudável de apreciação do esporte. Apontando por último, maneiras profiláticas contra o seu agravamento e possíveis medidas para a extinção da brutalidade neste cenário. No decorrer da resenha serão expostas apreciações dos discentes responsáveis pela mesma, e opiniões de mais três autores a cerca do tema, opiniões estas retiradas de artigos publicados pelos mesmos: Carlos Alberto Máximo Pimenta, Doutor e Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP; Adelgício Ribeiro de Paula, Mestre em Educação pela UNINOVE e; Viviane Hansen da Silva, Mestre em Educação Física pela UFPR.


2. DESENVOLVIMENTO
    A obra trata da origem e da evolução durante os anos das torcidas organizadas no âmbito do futebol. Seu surgimento oficial, já de forma organizada, ocorreu em Portugal no fim da década de 1970, com as torcidas uniformizadas, tendo na década de 80 o seu auge.
    A violência proveniente das arquibancadas teve início na Inglaterra, com os hoolingans durante a década de 50. Porém, anteriormente já era possível observar casos de violências em jogos de futebol, na Inglaterra (1880), ocasionado pelas multidões. Um dos fatores que contribuíram para o hooliganismo foi a falta de um agente regulador dos jovens que iam aos jogos, depois da II Guerra Mundial, uma vez que antes desta eles eram acompanhados por diferentes grupos etários, seja de sua família ou vizinhança, tendo seu comportamento controlado.
    Infelizmente essas pessoas, ligadas aos atos de violência das torcidas organizadas, estão crescendo mais em relação às juntas educacionais e prisões, magistrados e polícia, e as ações filantrópicas não estão sendo eficientes na sua regeneração.
    Atualmente, as brigas entre torcidas organizadas, que anteriormente ocorria entre equipes rivais, passaram a acontecer entre as do mesmo clube e, ferindo inocentes, somente pelo motivo de estar utilizando camisa de uma equipe adversária ou até mesmo de uma torcida organizada do clube diferente dos demais. O confronto também passou a ser travado com órgãos públicos, como Polícia Civil e Militar, sendo, muitas vezes, feito atos de vandalismo contra patrimônio público e particular. Com o auxílio dos meios de comunicação, brigas são marcadas com antecedência através da internet, por programas como Orkut e MSN, formas de relacionamento virtual. Durante essa evolução foram aderidos pela torcida, camisas, bandeiras, apitos, cornetas, papéis picados e até fumaça colorida e sinalizadores nas cores das equipes.
    Na Europa esses atos de vandalismo foram duramente punidos, sendo que hoje é cada vez mais raro um acontecimento como este e, uma das conseqüências do seu fim é a falta de divisória entre a arquibancada e o campo, nos estádios da Europa. Mesmo sem nenhum tipo de separação em relação ao gramado, os torcedores se mantêm nos seus lugares sem nenhum tipo de tumulto, o que também se deve à política, primeiramente punitiva, e em um segundo caso, educativa, com intenção de prevenir novos casos.
    O objetivo das torcidas organizadas está ligado à aquisição de respeito, sendo, para isto, utilizados slogans e símbolos que além de incitar a violência, demonstrem sua superioridade. Hoje em dia, as torcidas organizadas são constituídas cada vez mais por adolescentes que se tornam agressivos e sem comando, que têm por características similares serem: “companheiros de idade em situações idênticas, sem organização explícita e ausência de liderança... delinqüência juvenil,... experiências negativas no processo de integração social.” (CUNHA, 2003).
    As torcidas organizadas têm se tornado cada vez mais um comércio, fonte de lucro através da venda de produtos ligados ao clube e a uma torcida específica, e como todo comércio necessita de uma propaganda positiva. E no caso se trata de uma equipe vencedora, e para tal fazem pressão sobre o clube, seus dirigentes e jogadores, se utilizando também da imprensa como transmissora das informações e insatisfações. Sendo muitas vezes responsáveis por mudanças nos resultados das partidas e na administração dos seus clubes, tanto na contratação e dispensa de técnicos, jogadores e dirigentes. Acreditando ter uma eficaz participação no clube.
    Portanto, o surgimento das torcidas organizadas é um fenômeno sócio-cultural. E para o seu controle se faz necessário uma vasta mudança na estrutura político-social, acompanhada de estudos específicos nesta área. Ao adotar uma política de punição aos infratores e de (re)educação (nas escolas, com palestras e campanhas publicitárias), estaremos prevenindo possíveis incidentes e formando cidadãos mais conscientes e críticos quanto à realidade das torcidas organizadas no país.
Infelizmente a força da torcida é, muitas vezes, utilizadas de forma errada, sabemos que o apoio da arquibancada pode mexer com o brio dos jogadores e modificar totalmente a história do jogo, por isso, cremos que com essas modificações apresentadas pelo autor do texto acarretará na melhora do espetáculo, dando novamente o seu brilho característico.


3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que o texto é de grande relevância para as pessoas que estão envoltas no ambiente do futebol, independente de idade, escolaridade ou classe social, pois além de mostrar a origem das torcidas organizadas e da violência presente nas mesmas, contribuindo para uma melhor compreensão acerca do assunto, é uma excelente aquisição de conhecimento e também de grande valia cultural.
Fabio Aires da Cunha é graduado em Esporte pela Universidade de São Paulo, com especialização em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol pela Universidade Gama Filho, e em Ciências do Movimento pela Universidade Guarulhos (UNG), além de ser Mestre em Ciências do Movimento pela própria UNG. O autor possui 25 (vinte e cinco) artigos publicados em periódicos, 4 (quatro) textos em jornais de notícias e revistas além de 1 (um) resumo publicado em anais de congressos e 1 (um) livro publicado.
Esta resenha crítica foi produzida em conjunto pelos discentes Christiana Pereira de Barros, Luiz Fernando de Sousa Silva e Tiago de Souza Costa, acadêmicos do Curso de Educação Física Bacharelado da Faculdade Metodista Granbery (FMG).


REFERÊNCIAS
CUNHA, F. A. Origem, Evolução e Composição das Torcidas. In: Cooperativa do Fitness. 2003. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/futebol15.htm>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

PAULA, A. R. A Violência das Torcidas e Racismo no Futebol: O que a escola tem com isto?. In: Revista Urutágua. Maringá, n. 07, 2005. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/007/07paula.htm>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

PIMENTA, C. A. M. Violência entre Torcidas Organizadas de Futebol. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo. v.14, 2001, p. 122-128. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo...>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

SILVA, V. H. Relacionamento entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros Femininos. In: Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n° 79 – Dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd79/torcidas.htm>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

TOLEDO, L. H. Torcidas Organizadas de Futebol. Campinas: Autores Associados/Anpocs, 1996.

APÊNDICE A – Fichamento do artigo “Relacionamento entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros Femininos”

SILVA, V. H. Relacionamento entre Torcidas Organizadas e a Sociabilidade com os Membros Femininos. In: Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n° 79 – Dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd79/torcidas.htm>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

    O artigo trata das duas relações que permeiam as Torcidas Organizadas de Futebol (TOF): a inimizade e a amizade. A fim de argumentar sua opinião a autora faz uso de exemplificações de casos ocorridos em jogos entre clubes brasileiros.
As TOFs são associações compostas de membros de ambos os sexos para apoiar o seu time e buscar reconhecimento a nível estadual e nacional, que pode ser considerado a sociabilidade com outras torcidas e poder e prestígio adquiridos perante as mesmas, sabemos também que os meios de comunicação têm um importante papel no que tange a demonstração de poder das torcidas, uma vez que constantemente expõe gráficos quantitativos a respeito do número de torcedores de cada equipe, seja por cidade, estado ou país. O que aumenta a rivalidade entre os clubes. Demonstrando que a rivalidade de dentro do campo ultrapassa os limites do gramado e chega às arquibancadas. O que gera atritos e discussões. Mas como a busca é muitas vezes pelos mesmos interesses, no outro lado da moeda, é possível observar a sociabilização entre diferentes TOFs, formando alianças, “demonstrando que não só de rivalidade é feito o futebol brasileiro.” (SILVA, 2004).
Durante o texto se fala das recomendações das TOFs sobre a utilização de camisas de clubes e torcidas em dias de jogos, que deve ser evitada, como forma de precaução de confusões. E também sobre a não agressão das mulheres durante as brigas, o que demonstra um pouco de civilidade dos agressores, que orientam o afastamento das mesmas nos momentos anteriores às brigas. Sabemos também que umas das outras regras dos integrantes das TOFs que participam de brigas é a não-agressão de idosos, crianças e deficientes. Mas infelizmente muitos fazem uso das confusões geradas nos arredores dos estádios como forma de assaltar os desprevenidos. E apesar de a agressão física ser evitada, o mesmo não ocorre com a verbal, uma vez que constantemente ouvem comentários grosseiros partidos de torcedores rivais ou do mesmo clube.
Muitas vezes ocorrem alianças entre as Torcidas de clubes distintos baseadas na reciprocidade, que evoca a esfera da reciprocidade, poder e prestígio (Toledo, 1996, p. 105). E têm como base a hospitalidade entre ambas, principalmente na recepção em jogos realizados pelas duas equipes. Nessas partidas a presença feminina aumenta, devido à aparente ausência de conflitos, tanto nos estádios quanto nos seus arredores. Mas essa aliança pode ser quebrada por vários fatores, dentre eles o desrespeito com as mulheres da torcida co-irmã, além de torcedores idosos, deficientes e crianças.


APÊNDICE B – Fichamento do artigo: “ Violência entre Torcidas Organizadas de Futebol”

PIMENTA, C. A. M. Violência entre Torcidas Organizadas de Futebol. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo. v.14, 2001, p. 122-128. Disponível em: <http://www.scielo.br/...>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

    A violência nos jogos de futebol no que se refere aos jogadores não é um evento recente. Todavia, é inédito o fato de tal violência estar difundida em meio a um movimento de jovens, os quais passam à sociedade um novo contexto simbólico e cultural. Cremos que o comportamento do torcedor mudou muito, passando de uma simples mobilização de camadas da sociedade que apreciam e torcem por um time de escolha particular, para uma massa organizada com caráter burocrático/militar.
    Nas décadas de 60 e 70, o Brasil passava por uma busca do avanço econômico e, a cidade de São Paulo, por um processo de crescimento populacional urbano. Em meio a estas modificações começam a surgir as torcidas organizadas e fica clara para nós a impossibilidade de dissociar tais torcidas dos aspectos políticos, econômicos e culturais da sociedade.
    O conflito pelo poder econômico e social marcou a construção do espaço urbano de grandes cidades, onde o que realmente interessava era o capital. Este sistema marcou inclusive a constituição da identidade do jovem que neste período se formava como cidadão, despertando a disputa prazerosa entre grupos rivais, o que levou a um afastamento da noção de coletivo. Portanto, o aumento dos atos de violência entre as torcidas é provindo destes sujeitos, jovens individualizados sem consciência social ou coletiva.
    A seguir está uma parte da entrevista de um repórter a um torcedor, publicada no programa “Apito Final”, do jornalista Armando Nogueira, em agosto de 1995, pela rede bandeirantes de TV:

Repórter: “Você chegou a bater em alguém?”
Torcedor: “Não sei...”
R: “Você se defendeu pelo menos?”
T: “Defendi...”.
R: “O que você acha disso, você gosta?”
T: “Gosto... é só pra chegar em casa e ter o prazer de tirar um barato com os meus amigos.”
R: “Não importa que alguém morra nisso?”
T: “Mão sendo amigo meu, tudo bem!”

    Após uma competição com entrada gratuita em 20/08/1995, em São Paulo, o repórter Flávio Prado entende que: “(...) Esses jogos de graça, envolvendo grandes equipes, são ótimos pretextos para que esses marginais compareçam” (PIMENTA, 2001). A solução encontrada em tais declarações é a intervenção policial ou a majoração dos ingressos. O problema da violência tanto aos olhos dos torcedores quanto aos olhos das autoridades esportivas permanecem no eixo da economia e das classes sociais.
    No período entre os anos 1992 e 1994 os confrontos passaram a ser constantes e os instrumentos utilizados para defesa ou ataque, como bombas e armas de fogo ocasionavam lesões de natureza grave. Nota-se aqui, a intenção do torcedor organizado ao assistir os jogos: transformar os estádios em arenas de disputa violenta e coletiva. Contudo isto não significa que antes do período descrito não havia briga, mas, estas eram sem o uso de armas.
    Os novos membros, geralmente entre 12 e 18 anos, são atraídos por aspectos estético-lúdico-simbólico disponibilizados à massa jovem, intimamente ligados ao modelo de sociedade de consumo instaurado no Brasil, tais como a vestimenta, a força e a coesão do grupo, além do estilo de vida e do prazer da violência. À medida que cresciam os números estatísticos do aumento da violência nas torcidas, crescia também a procura por filiações. Vemos que a violência começa de forma verbal e, quando os ânimos já estão alterados, parte-se para a violência física, sendo o primeiro um aquecimento para algo maior que está por vir.
Os dirigentes dos times acham que a culpa para o brusco aumento da violência está na mídia – que tem de vender manchetes – e no próprio jogo. Segundo Jamelão, ex-presidente da “Gaviões da Fiel”:

    (...)a imprensa tem que chegar junto com a gente (...), porque todo aquele que for associado que está na faixa de 15 à 17 anos, vendo uma matéria no jornal: ‘são paulino taca bomba no corintiano”, isso automaticamente fica na memória dele no próximo jogo, ele vai fazer bomba para atacar o são-paulino. (...) A imprensa ao invés de colaborar e querer saber quais os pontos para ter uma solução, eles preferem vender a imagem, vender jornal (...). (PIMENTA, 2001)

    Representantes das torcidas argumentam que existem vários fatores que geram os tumultos, é um detalhe do bandeirinha, do juiz, do policiamento e, até a condição dos estádios. Quer dizer, o pouco é o suficiente para levar a torcida às brigas, uma vez que a mesma já chega na expectativa de confrontos. Não sendo o torcedor organizado mais um mero torcedor, mas sim parte do espetáculo, pois ele expressa seu sentimento de companheirismo e pertencimento a um grupo que o acolhe.
Portanto, a violência da torcida organizada passou a ser um incômodo à verdadeira intenção do esporte, mais um problema sócio-urbano para as grandes cidades.
    Em meio às declarações das autoridades esportivas e líderes de torcida, listou-se as seguintes justificativas para a violência: má distribuição de renda; exploração dos dirigentes esportivos e dos líderes de torcida; efeitos da criminalidades e da pobreza; ausência de expectativa de futuro aos jovens; ausência do Estado, enquanto mentor de políticas de formação social; afrouxamento da ordem legal e das posturas repressivas das instituições de segurança e justiça; falta de emprego; miséria generalizada; familiarização com a violência; falta de infra-estrutura nos estádios de futebol; má arbitragem; gozações de adversários e; derrota em uma partida de futebol.
    Nenhum dos argumentos é desprezível, mas, ainda assim, não justificam os excessos observados entre as torcidas. Visto por nós que, a torcida possui indivíduos de várias classes sociais e econômicas e de vários partidos políticos, não se pode atribuir às práticas somente questões sociais ou econômicas. O que se arrisca, por derradeiro, é dizer que a violência caracterizou-se como parte do cotidiano urbano contemporâneo, em especial, nos grandes centros e, a repressão utilizada para manter certa ordem, contribui também para o deslocamento das massas para movimentos que lhes ofereça prazer e excitação, mesmo que as práticas para se atingir tais sensações sejam envoltas pela violência.


APÊNDICE C – Fichamento do artigo: “ Violência das Torcidas e Racismo no Futebol - O que a escola tem com isto?”
PAULA, A. R.. A Violência das Torcidas e Racismo no Futebol: O que a escola tem com isto?. In: Revista Urutágua. Maringá, n. 07, 2005. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/007/07paula.htm>. Acessado em: 21 de Novembro de 2008.

    Nos últimos anos é notório o aumento da violência no futebol, não somente entre os jogadores, mas, sobretudo entre as torcidas. Que na busca pela afirmação de sua identidade, têm grande influência da educação obtida, pois “cada tipo de povo tem um tipo de educação que lhe é próprio e que pode servir para defini-lo.” (PAULA, 2005)
    O sistema educacional pode criar no indivíduo um novo ser social. E é nesse sistema que o sujeito vai ser inserido num modelo de vida em sociedade, desenvolvendo formas de consenso ou pacto social, tendo as oportunidades de experimentar e exercer certos padrões de sociabilidade, ou seja, a internalização da moral social e do grupo. Em nossa opinião, é na escola que o aluno tem a chance de debater assuntos que permeiam a sociedade, sem estar de fato inserido na questão, permitindo assim ter uma visão exterior do problema, possibilitando-o debater e chegar a uma resolução que seja a melhor para todos.
    O futebol pode servir como estratégia para fortalecer as relações de classes entre os participantes, mas não significa que jogando futebol o indivíduo alcançará ascensão social. Infelizmente a Educação Física Escolar tem contribuído para o desenvolvimento desta desigualdade quando privilegia esportes de alto rendimento, voltados para competições escolares, excluindo os menos aptos.
    Uma segregação no futebol moderno pode ser observada quando verificamos o cenário de exportação de jogadores, mercado que hoje gera altos lucros. Como a maior parte dos jogadores é exportada para a Europa, Ásia e Oriente, fica muito mais viável a comercialização de jogadores brancos ou que tenham traços semelhantes aos dos habitantes dos países de destino, facilitando sua adaptação e a possibilidade de naturalização. Acreditamos que, desta forma, fica evidente o caráter racista em tal ação, pois, ao se dar preferência à classe de jogadores citadas acima, concomitantemente, se esquece que os mesmos, na maioria das vezes, são afro-descendentes. E a discriminação não pára por aí, com tanto interesse capitalista presente neste esporte, o futebol feminino não tem espaço e, suas possibilidades de um futuro de sucesso ficam cada vez mais distante, apesar de, na prática, as jogadoras da seleção já terem comprovado que têm muito potencial.
A verdade é que o racismo não se manifesta somente entre “os poderosos” do time, mas também entre os torcedores e os próprios jogadores, como ocorreu na Taça Libertadores da América do Sul de 2005, quando o jogador do São Paulo, Grafite, alegou ter sido chamado de negro de m... e macaco, pelo jogador argentino, Sanches, do Quilmes-ARG. O caso teve repercussão mundial.
    O futebol é um fenômeno urbano, que engloba andar pelas ruas em grupo, vestindo a camisa do seu time, construindo para tal grupo uma nova identidade. Fazendo uma análise sociológica e antropológica, pode-se constatar que o esporte tem sido usado como forma de controle social e manipulação das massas. É através da torcida que o indivíduo extravasa seu sentimento de repressão perante a sociedade e, pratica atos que se estivesse sozinho, provavelmente, não os faria. Na verdade, o torcedor, na arquibancada, demonstra o seu sentimento de indignação e frustração.
    O jogo de futebol em si já demonstra um aspecto de violência marcado pelo fato de ser um esporte coletivo e que, no entanto, apresenta uma batalha individual quando cada jogador deve marcar seu oponente e, o sucesso na partida vai depender desta marcação eficaz. Todavia, tal situação não deveria ser levada a uma disputa pessoal, a qual, muitas vezes, leve o adversário à condição de inimigo, como se fosse uma guerra.
Sociologicamente, o futebol é um esporte de integração do indivíduo celebrando o sentimento de solidariedade e responsabilidade social, o que pode ser observado ao serem marcadas disputas casados x solteiros, campo x cidade, professores x alunos, em sua maioria, com jogos de volta, fazendo com que ambos os lados interajam na disputa. Contudo, não é tal sentimento que vem sendo observado nas disputas e, principalmente, nos profissionais. Toda esta modificação na essência do que seria o intuito do jogo de futebol se reflete na torcida.
    Dentro da escola o esporte deve ser ensinado a todos sem qualquer forma de discriminação. Nela podem ser vistas alternativas para solucionar os problemas encontrados na prática esportiva, pois, as regras e o comportamento da sociedade são amplamente difundidos. A Educação Física Escolar deve envolver o aluno em seu próprio conceito social.
Em função da violência vivida nos estádios, principalmente se referindo ao torcedor, em 2004 foi realizada uma pesquisa em uma escola estadual da periferia de São Paulo, abordando o tema de torcida organizada entre outras questões. Como resultado, observou-se que a relação de fidelidade para a torcida organizada é maior do que a em relação ao próprio clube e, grande parte dos entrevistados brigaria por ela, mesmo sendo de outras regiões. Ou seja, mesmo os próprios jogadores dos clubes pedindo para que não haja violência entre as torcidas, pois, além de todas as conseqüências de uma briga, não fica bem para o time, existe grande possibilidade de não serem ouvidos, uma vez que a relação de honra a ser prestada é com o grupo organizado e não com o clube.
    A preocupação da Escola deve ser, portanto, contribuir para a formação do homem enquanto cidadão, através de um processo pedagógico humanizante. Assim, o cidadão será capaz de organizar e praticar o lazer de forma mais proveitosa, difundindo-o na sociedade.

Publicado no cdof: 5/06/2010
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luizfernando-ss@hotmail.com

 

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