Autoria:
Rodrigo Silva Perfeito2;
Ricardo
Gonçalves Cordeiro1
Data de Publicação: 05/05/2013
O
método Pilates deve ser entendido como algo muito além
de uma atividade que
propicia maior resistência, força e flexibilidade
da musculatura. Infelizmente, muitos
instrutores ainda não enxergaram todo esse poder do método.
De modo talvez ousado,
propomos o treinamento cardiorrespiratório (Exercício
Aeróbico - EA) associado com Pilates,
como modo de prevenção de doenças ou de
tratamento. Isso mesmo, estamos propondo o
treinamento aeróbico associado ao Pilates. Este é possível
e muito válido. Diversos estúdios já
estão incorporando a bicicleta e a esteira como mais uma
possibilidade, e muitos destes
estúdios localizam-se dentro de academias de ginástica.
O mais interessante, veremos mais a
frente com maior propriedade, que quanto maior o condicionamento
cardiorrespiratório
(VO2máx), menor o risco de morte (< 8 MET) (MYERS,
2002).
Surge então o Exercício Aeróbico associado
ao Pilates, como uma ferramenta de
prevenção, promoção da saúde
e, até mesmo, como forma de tratamento não farmacológico,
principalmente para Doenças Crônicas Não
Transmissíveis.
Quando pensamos em uma atividade aeróbica, a primeira
questão que deve vir em
mente é qual o melhor exercício, seguido da intensidade
correta. Identificar a primeira etapa é
razoavelmente fácil, a segunda, controlar a intensidade
do esforço, é que deve ser considerada
de escopo complexo.
Outro fato importante, é a diferença quanto a prescrição
do exercício aeróbico para a
saúde e para a performance. Na promoção
da saúde, o objetivo é melhorar a aptidão
cardiorrespiratória; já aquele que tem por finalidade
a melhora do desempenho, além da
aptidão cardiorrespiratória, deseja aprimorar a
tolerância à fadiga em exercícios máximos
e
submáximos de esforço, eficiência no gasto
energético, entre outros aspectos. Foi citado o
exercício submáximo para adaptações
quanto à fadiga em um circuito no Pilates, por
exemplo, pois o indivíduo não consegue se manter
por muito tempo em um exercício
máximo, principalmente se o mesmo for de tipo contínuo,
o que iremos discutir mais a frente.
Como o Pilates tem muito cunho terapêutico, o enfoque nesse
texto será na promoção
da saúde, portanto, melhora da aptidão cardiorrespiratória.
Nesses marcos, já se sabe que os
treinos em alta intensidade são melhores (> 80% VO2máx
ou > 85% FCreserva) do que os de
moderada e baixa intensidade (40 a 80% VO2máx ou entre
60 a 80% da FCreserva), pois em
discurso simples, melhora com maior eficiência a aptidão
relatada. O “x” da questão, quando
falamos em exercício aeróbico e saúde, é que
os estudos atuais, como o de Mayers (2002)mostram que quanto
maior a aptidão, menor o risco de morte. Neste trabalho
foi apontado que
para 1 MET (valor de 3,5 do VO2) de melhora, são diminuídos
de 12 a 15% o risco de morte.
Além do trabalho de alta intensidade comparado ao de média
e baixa intensidades melhorar
em maior proporção o VO2máx, também
incide qualitativamente em certos fatores de risco de
morte. Assim, quanto mais condicionada a pessoa (entendido pelo
consumo máximo de O2)
menor o risco; quanto menos condicionada, maior a probabilidade
de morte. A aptidão
também é correlacionada em alguns trabalhos com
questões de saúde como: o diabetes, a
hipertensão, o fumo e o alcoolismo.
Alguns autores arriscam o discurso de que a sobrevida é pior
em quem é sadio e mal
condicionado, do que no sujeito que é doente, no entanto,
bem condicionado. Devemos
apenas tomar cuidado com esta afirmativa, a fim de evitar equívocos.
Não podemos afirmar
que ser cardiopata bem condicionado é mais indicado do
que ser um sedentário não
cardiopata. A conclusão que se pode obter é que
o condicionamento cardiorrespiratório é fator
importante para a qualidade de vida. E não, que possuir
uma patologia qualquer é positivo.
Para trabalhar com exercícios aeróbios de moderada
e alta intensidade somado ao
Pilates, é preciso optar pelo treinamento continuo ou
intervalo, moldados pelos indicadores de
intensidade que serão relatados a seguir. Sabe-se ainda,
que para se manter mais tempo em
alta intensidade é preciso treinar na modalidade intervalada,
já que no contínuo, não é
possível se manter no steady state por muito tempo no
exercício.
Aperfeiçoando o consumo de O2, melhora-se a aptidão,
reduzindo ou auxiliando na
diminuição dos riscos de morte, isso já sabemos.
Mas como trabalhar as intensidades? Na
prescrição do exercício aeróbico,
na perspectiva da saúde, são utilizados 5 indicadores
de
intensidade: VO2res, VO2máx, FCmáx, FCres e taxa
de esforço perceptivo, como a escala de Borg.
Sim, para ser instrutor de Pilates, precisamos saber trabalhar
os indicadores de intensidade.
Com relação aos indicadores, existem alguns problemas
relacionando as pesquisas e a
prática, pois diversos trabalhos fazem simetria entre
indicadores na relação de 1:1, como no
caso da FC e o consumo de O2, partindo do principio que existe
relações de paridade exata
entre esses marcadores, quando na realidade, não devem
ser utilizados para tal referência, mas
sim, para se saber em que percentual de esforço se está trabalhando.
Outra relação errônea
muito utilizada é a do gasto energético representado
em MET e o consumo de O2.
Outra questão bastante criticada na literatura atual, é a
lenda de que um iniciante
buscando o condicionamento cardiorrespiratório deve trabalhar
em intensidade baixa ou
moderada. Como dito anteriormente, estudos comprovaram que o
condicionamento aeróbico
traz resultados muito mais favoráveis em trabalhos de
alta intensidade, desde que realizados
de maneira intervalada com cargas e descansos ativos adequados.
Os estudos avançam
proferindo ainda, que quanto maior o aprimoramento cardiorrespiratório,
menor é o risco de
morte. Os dados são bastante interessantes: para cada
aumento do MET, o indivíduo tem uma
redução do risco de morte de 13% a 15%. Portanto,
aumentando de 3 a 4 METs, temos uma
redução de 50% do risco de morte. Vale ressaltar
mais uma vez, que estes são parâmetros
estatísticos importantes, mas que devem ser interpretados
de maneira consciente. Não
devemos extrair conclusões precipitadas desta fala, como:
se eu melhorar meu
condicionamento cardiorrespiratório no Pilates, não
irei morrer. Apesar de diversas pesquisas
mostrarem um efeito muito positivo, é bastante difícil
aumentar o consumo de O2, o que torna
a tarefa de aprimorar o MET complexa.
Este é um texto reflexivo que não visa trazer dados
epistemológicos. O objetivo aqui é
salientar aos instrutores de Pilates, que podemos trazer uma
prevenção ou tratamento de
patologias respiratórias severas, e ainda, melhorar a
sobrevida dos indivíduos. Portanto, de
grande valia para toda uma sociedade. Mãos a obra!
Referências
e sugestões de leitura:
BEZERRA, Marcelo Jorge de Souza; PERFEITO, Rodrigo Silva. Variação
do humor por
meio de exercícios de Pilates em adolescentes acautelados.
Nova Fisio, Revista Digital. Rio
de Janeiro, Brasil, Ano 16, nº 90, Jan/Fev de 2013. p. 32-41
MYERS, J; PRAKASH, M; FROELICHER, V; DO, D; PARTINGTON, S; ATWOOD,
J.
Exercise capacity and mortality among men referred for exercise
testing. N Engl J Med 2002;
346:793-801.
PERFEITO, Rodrigo Silva. A importância de pensar no método
Pilates como uma
modalidade de treinamento. Revista Negócio & Fitness.
São Paulo, v. 19, Dezembro de
2011.
PERFEITO, Rodrigo Silva. Pensamentos sobre as indicações
e contra indicações no método
Pilates. Revista Negócio & Fitness. São Paulo,
v. 24, Maio de 2012. pp. 06-08.
PERFEITO, Rodrigo Silva. Pilates: studio, solo e bola. Rio de
Janeiro: Fisart, 2011
PERFEITO, PERFEITO, Rodrigo S. Pilates: as diferentes respostas
adaptativas ao exercício entre homens
e mulheres. Rev. NovaFisio. Ano 15, n.87. Julho/Agosto 2012.
SOARES, Tadeu W; PERFEITO, Rodrigo S. Sugestão para inserção
de softwares durante a
avaliação dos alunos de estúdios de Pilates:
uma revisão de literatura. Rev. NovaFisio. Ano
15, n.84. Jan/Fev 2012.
1 Graduado
em Educação Física pela UCB; Graduando em
Fisioterapia pela UCB;
Especialista em Fisiologia do esforço pela UCB; Mestrando
em Ciências da Atividade Física
pela UNIVERSO; ricardo_hand@yahoo.com.br
2 Graduado em Educação
Física - Licenciatura
pela UERJ; Graduando em Educação
Física - Bacharelado pela UERJ; Graduado em Fisioterapia
pela FRASCE; Especialista em
Educação Física Escolar pela UERJ; Mestrando
em Ciências da Atividade Física pela
UNIVERSO; rodrigosper@yahoo.com.br
Artigo
Autorizado - Fonte: Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro,
Brasil, Ano 16,
nº 91, Março/Abril de 2013. p.
32-34 http://www.novafisio.com.br
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