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Qui, 22/1/09 21:15

PSICOLOGIA e PSICOLOGIA DO ESPORTE
FATORES ASSOCIADOS À MOTIVAÇÃO EM ATLETAS NADADORES
FEDERADOS BAIANOS


Fábio Souza de Oliveira
Johelio Santana Barroso
Universidade Estadual De Feira De Santana - Bahia

INTRODUÇÃO
   A influência dos eventos esportivos divulgados com grande freqüência pelos meios de comunicação, a identificação com ídolos, a pressão de pais e amigos, fazem com que as palavras treinar, competir, vencer, prêmios, sejam palavras comuns no cotidiano daqueles que praticam esporte competitivo e que vislumbram com a possibilidade do sucesso no esporte (CHAVES; BARA FILHO, 2005).
   Durante anos vivi a realidade dos atletas que competem na modalidade natação tendo contato direto com diversos aspectos que circundam a rotina dos treinamentos em piscina, de modo particular, o abando ou desmotivação por parte de uns, e a continuidade por parte de outros, sendo este último grupo geralmente menor.
   Agora, enquanto acadêmico e técnico de natação, observo sob um novo ângulo, outra geração de atletas vivendo as mesmas situações onde pouquíssimos prosperam e a maior parcela deixa as competições e treinamentos precocemente.
   A natação, especificamente, onde meninas começam a treinar entre os sete e nove anos e meninos dos nove aos onze (PLATONOV, 2005), vem sendo recordista em abandono precoce entre as diversas modalidades esportivas (SILVA, 2005). Os estudos mais recentes têm evidenciado que a sofisticação dos treinamentos esportivos possibilita a obtenção de altos níveis de resultados e exige dos atletas, cada vez mais, determinação, tempo e esforços, que podem contribuir para a ocorrência desse abandono (SILVA, 2005).
   Diante destes dados e das observações destes anos, sobretudo os mais recentes, surgiu o problema: quais os fatores associados à motivação dos nadadores federados baianos?
   O objetivo deste estudo então foi proporcionar uma visão mais clara dos fatores que motivam ou desmotivam nadadores em sua carreira de atleta, identificando ainda os que mais interferem positiva ou negativamente. Deste modo, os profissionais que atuam nesse segmento, podem intervir de forma consciente rumo aos objetivos traçados, antes que o atleta se desestimule e desista da carreira de nadador.
   Dividimos este estudo em três capítulos. No primeiro, utilizamos o olhar da psicologia sobre motivação, tratando do seu conceito e dos seus processos. O segundo capítulo trata da natação competitiva e suas principais características, dando uma visão clara de como é desenvolvida nos principais centros de treinamento. O terceiro e último capítulo trata da motivação especificamente na natação, buscando os fatores que podem interferir na motivação deste grupo de atletas de acordo com pensadores da psicologia e do treinamento desportivo.
   Acredita-se que o principal motivo que leva um nadador competidor ao desanimo sejam a falta de patrocínio que custeie seus treinamentos e competições, seguido pela não obtenção dos resultados traçados no início de sua temporada de treinamento.

REVISÃO DE LITERATURA

MOTIVAÇÃO
   Nossos comportamentos não são determinados pelo acaso, mas por uma necessidade ou uma motivação, consciente ou inconsciente (DE BENI et al, 2004). Enquanto a necessidade é uma deficiência, falta de algo, a motivação é resultante de uma necessidade, é quem ativa o comportamento direcionado para a satisfação da necessidade (DAVIDOFF, 2001).
   A motivação é explicada sob dois aspectos: fisiológicos e comportamentais (reações intra e extracelulares) (PENNA, 2001).
   No nível comportamental, define-se motivação em termos relacionais, onde o conceito de motivação lembra também o de meta, de projeto ou de ação para um fim (DE BENI et al., 2004). Para os efeitos desta pesquisa, foi adotado o conceito de motivação de Davidoff (2001), onde motivação é um ativador do comportamento para satisfação de determinada necessidade.
   A abordagem fisiológica orienta-se para a determinação de certas estruturas nervosas envolvidas com a motivação, como as que integram o hipotálamo, o sistema reticular e o sistema límbico.
   Tratando-se de motivação, pressupõe-se que o corpo tem padrões de referência, ou valores estabelecidos para cada uma de suas necessidades, é o estado ótimo, ou estado equilibrado (DAVIDOFF, 2001). Esses padrões podem ser determinados pelos genes ou pela experiência. Quando o corpo se afasta significativamente de um de seus padrões de referencia surge uma necessidade. A necessidade por sua vez, ativa um motivo. O motivo aciona um comportamento para o retorno ao equilíbrio. Motivo para comida, água e drogas que viciam parecem seguir este modelo. O motivo neste caso é busca pela substância ausente para reestabelecer o equilíbrio. A literatura menciona que algumas substâncias podem alterar o estado de equilíbrio natural estabelecendo novos valores de referência, como é o caso do álcool e das drogas que viciam. Para o esporte de alto nível, este dado leva a cogitar a manipulação de substâncias para intervenção em necessidades e, portanto, comportamentos.
   Para o comportamento motivado, diversas vezes os incentivos são mais importantes do que o equilíbrio. Incentivos são objetos, eventos ou condições que incitam a ação. O modelo de incentivo, diz que experiências e incentivos também levam à motivação. A motivação aciona o comportamento. Nesse modelo, uma variedade de forças internas e externas controla nossa motivação. Alguns psicólogos diferenciam os incentivos intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos têm relação direta ou inerente à atividade. Os extrínsecos são motivos que não tem relação direta com a atividade, o incentivo está fora da atividade. Impulsos básicos como a fome e o sexo costumam ser intrinsecamente incentivados.
   Os incentivos extrínsecos ou recompensas, na concepção de alguns autores (AMABILE, 1985; DECI, 1980; DECI; RYAN, 1985; LEPPER, 1983; PITTMAN et al., 1983, apud DAVIDOFF, 2001) matam os incentivos intrínsecos, já que eu preciso ser recompensado por algo que anteriormente eu apreciava fazer.
   Outra idéia de interesse a esse estudo é a da busca de prazer. Nos acostumamos a esperar prazer quando cuidamos de uma necessidade básica. A alegria que acompanha os motivos está radicada nos centros de prazer, no cérebro.    Diversos neurotransmissores como a dopamina, serotonina, norepinefrina e endorfinas parecem estar envolvidos. A compreensão da busca pelo prazer relacionada com a motivação, deve proporcionar a treinadores e técnicos, subsídios para tornar os treinamentos mais prazerosos e assim interferir positivamente em seus comportamentos.
   Diferentes estudos fornecem evidências fisiológicas que corroboram as afirmações acima de que o comportamento é motivado não apenas pela redução ou prevenção de um efeito desagradável, mas também por recompensas primárias tais como as provocadas por estimulação do sistema de recompensa do cérebro (GANONG, 1993).

NATAÇÃO COMPETITIVA
   Planejar uma temporada de natação implica em separar o ano de treinamento em unidades menores e mais maleáveis que enfatizam o desenvolvimento de certas características. Cada temporada é dividida em fases, com objetivos muito específicos. Cada fase é subdividida novamente em fases mais curtas, que permitam progressões sistemáticas na metragem e/ou intensidade do treinamento. A esta estrutura de trabalho denominou-se periodização (PLATONOV, 2005). As fases e subfases são comumente conhecidas como macrociclos, mesociclos e microciclos.
   A primeira discussão a ser tratada diz respeito à duração do treinamento. Alguns treinadores acreditam que o valor dos programas de treinamento deve ser julgado de acordo com o número de metros nadados a cada dia. Outros avaliam que a metragem do treinamento pode ser reduzida sem que ocorra perda da endurance (MAGLISHO, 1999). Harms e Hickson (1983, apud MAGLISHO, 1999) comunicaram que aumentos nas medidas da capacidade aeróbica foram 40% a 70% maiores quando os ratos foram treinados durante duas horas por dia, em vez de 40 minutos. Neste mesmo estudo, concluíram ainda que, a duração do exercício parece ter uma influência mais direta e forte nas adaptações mitocondriais e, assim, na endurance aeróbica do que a intensidade do treinamento.
   Tais estudos baseiam as vertentes mais conhecidas e usadas sobre natação de alto nível no mundo fazendo com que a duração dos treinamentos torne-se tão longa quanto os estudos sugerem.
   Quanto à freqüência, Hickson, (1981, apud Maglisho, 1999) comunica que ratos que foram treinados seis dias por semana melhoraram consideravelmente mais em suas medidas de capacidade aeróbica e tempo de corrida até a exaustão, em comparação com roedores que foram treinados por dois ou quatro dias por semana. O tempo de corrida até a exaustão melhorou em até 136% para os que treinaram seis dias em relação aos que treinaram somente dois dias e 34% em relação aos que treinaram quatro dias. Estes resultados sugerem que os atletas devem treinar acima de quatro dias por semana para obtenção de resultados máximos (MAGLISHO, 1999).
   Outro fator importante é a intensidade dos treinamentos. Pesquisas mencionaram que cada tipo de fibra muscular é treinada em intensidades diferentes, HARMS; HICKSON, 1983 apud MAGLISHO, 1999), apontando para a necessidade de se treinar endurance em sobrecarga, limiar anaeróbico, velocidade, potencia, endurance básica.
   Quando da ocasião do planejamento da temporada de um determinado atleta, já na confecção do seu macrociclo, devem ser pensados aspectos como: treinamento de força, potência, flexibilidade, Endurance Training, velocidade, exercícios de braços e pernas, saídas e viradas, treinamento psicológico. Estes seriam os aspectos mais importantes, não estando, porém completa esta lista.
   Em qualquer das fases da temporada, o treinamento de endurance compreende a maior parte das sessões. Ele torna o treinamento longo e às vezes enfadonho, pois para sustentar o "lastro fisiológico" dos atletas é necessário um volume maior de treinamento conforme discutido. Os treinamentos de velocidade e potência muscular na piscina, apesar de representarem um percentual consideravelmente pequeno do planejamento, são motivo de estresse para muitos atletas, pois é aqui que acontecem as séries principais dos velocistas, além de ser a parte do treinamento que provoca a mais intensa dor física. Para contemplar os outros componentes do treinamento da natação torna-se necessário treinar entre duas e quatro horas diárias.
   As qualidades físicas supra citadas são organizadas dentro do macrociclo em suas unidades menores, os mesociclos. De modo geral um macrociclo contém quatro mesociclos: um período de endurance geral, um de endurance específica, um período de competição e um último de polimento.
   O período de endurance geral dura aproximadamente seis a dez semanas (MAGLISHO, 1999). A ênfase está em melhorar a capacidade aeróbica em geral, força, flexibilidade, mecânica de nado, saídas e viradas e resistência ao stress psicológico (MAGLISHO, 1999). Contempla exercícios de braços, de técnica e de pernas em velocidades de endurance básica e algum sprint training (treinamento de velocidade). Os atletas nesta fase devem nadar todos os estilos e distâncias (MAGLISHO, 1999). Os exercícios fora d'água devem durar três a quatro horas para aumentar o volume e a força musculares. Os exercícios de flexibilidade devem ser praticados diariamente.
   O período de endurance específica dura em média oito a doze semanas (MAGLISHO, 1999). A principal diferença entre o período geral e o específico é que neste último a maior parte das distâncias (entre 50% e 60% do volume total) deverão ser nadadas no estilo do nadador. Os treinamentos de velocidade dobrarão nesta fase (MAGLISHO, 1999).
Para o período competitivo estão programadas a maioria das competições importantes. A ênfase aqui será no treinamento em ritmo de prova, produção de lactato e treinamento de potência. Este período dura quatro a oito semanas.
   Período de polimento é a fase final da temporada. É um período de redução no volume e intensidade do treinamento e que deve durar duas a cinco semanas. É um repouso para a competição final ou a mais importante.
Todos estes aspectos a serem treinados e desenvolvidos bem como as quantidades e intensidades indicadas, diversas vezes tornam o treinamento da natação de alto nível enfadonho e repetitivo, desestimulando até mesmo os atletas mais envolvidos com a modalidade.
   Outro aspecto que merece atenção neste estudo diz respeito ao ritmo circadiano em atletas nadadores. As funções básicas do organismo apresentam um ritmo circadiano relacionado com a temperatura do corpo, a atividade hormonal, o funcionamento do sistema cardiovascular, capacidade de trabalho, etc. (PLATONOV, 2005). A composição das substâncias ativas biologicamente no meio interno do organismo aumenta e diminui de acordo com o horário do dia e da noite, alterando a capacidade de manifestação de atividades físicas e psíquicas do indivíduo. Os picos dessa atividade são geralmente encontrados das 10 às 13 h e, mais tarde, após uma diminuição significativa, das 16 às 19 h (PLATONOV, 2005). Esse fato deve ser levado em conta durante o planejamento dos treinamentos e competições dos nadadores, principalmente no que diz respeito à escolha dos horários das tarefas, orientação e grandeza das cargas (PLATONOV, 2005).
   A natação de alto nível é, portanto, baseada em uma gama de aspectos que a tornam repetitiva, punitiva, extenuante diversas vezes, e assim, monótona, indo de encontro à motivação que defende diferenciação de atividades, prazer, recompensa, entre outros.

MOTIVAÇÃO EM ATLETAS NADADORES
   A motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento. Os treinadores reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas competições. O indivíduo motivado encontra-se disposto a grandes esforços para alcançar os seus objetivos.
   Estudos sugerem que meninos e meninas que praticam atividade esportivas gostariam de receber mais elogios (PICOLLI, 2005; SINGER, 1997), supõe-se então, que uma eventual desmotivação dos atletas seja compensada, ou poderia ser, através de elogios, buscando aspectos em suas performances, condutas ou outros fatores relacionados à sua carreira que possam ser mencionados.
   A literatura aponta diferentes fatores externos que desencadeiam motivação ou desmotivação. Knijnik; Greguol e Sileno (2001) mencionam a falta de competição, ênfase exagerada na vitória e excesso de pressões por parte dos pais e dos técnicos, tarefas muito fáceis ou muito difíceis como fatores desmotivadores, enquanto elogios, reconhecimento e dinheiro seriam incentivantes.
   Para Ferracioli (2002), Pode-se destacar como motivação do desportista alguns aspectos, tais como: a necessidade de sensações, ou seja, o prazer que a atividade lúdica provoca no ser humano, interesse de competir, isto é, a manifestação ostensiva da necessidade de afirmação para obter estima e reconhecimento, necessidade de filiação, de incorporar-se ao meio social através da demonstração de força ou de habilidade motora, busca de subsídios para insatisfações, frustrações e insucessos na vida.
   Como agentes motivadores, Almeida (2005) cita ainda: estabelecer metas atrativas desafiantes e realistas como motivo para a prática de atividades físicas, registrar as metas e acompanhá-las, estar sempre que possível sendo avaliado física e emocionalmente durante o período de treinamento, praticar outra atividade que você se identifique e que possa ser feita em local próximo de casa ou do trabalho; procurar não se exercitar até o ponto de exaustão e sair feliz da atividade. Presídio (2005) cita a variação da atividade física como primordial na manutenção da motivação. Almeida (2005), chama atenção para a determinação dos objetivos como, por exemplo: determinar metas exigentes e desafiantes, porém reais, estabelecer metas específicas e controláveis, determinar metas a curto, médio e longo prazo, identificar estratégias e técnicas para alcançá-las,
   O conhecimento dos motivos que levam atletas a continuarem uma atividade motora, é um aspecto bastante relevante para os técnicos por proporcionar subsídios para a preparação de programas mais voltados para o interesse do praticante, facilitando a escolha das atividades, o ritmo da aula, o comportamento relacional e a maneira de motivar para uma prática alegre e prazerosa (PAIM, 2003).

MATERIAL E MÉTODO
   Para o desenvolvimento deste estudo, foi utilizado o método descritivo, com o intuito de registrar e analisar dados referentes à motivação. Segundo Mattos, Rosseto Júnior e Blecher (2004), a finalidade deste tipo de estudo é descrever fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a freqüência em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores, obtendo uma nova percepção a seu respeito, descobrindo assim novas idéias em relação ao objeto de estudo. Foi elaborado como instrumento de coleta um questionário estruturado, contendo trinta e duas questões acerca da motivação relacionada à rotina de atletas nadadores. As questões trataram de aspectos como: idade, sexo, tempo de filiação na federação em questão, motivos para a prática competitiva, interferência familiar, tipos de séries que compõem o treinamento, preferências por horários, dias e freqüência para treinos, local de treinos e competições, atividades extra-treinamentos, nível de cansaço durante e após os treinamentos, relacionamento com o técnico, metas a serem cumpridas e dores.
   As questões que constaram neste questionário foram elaboradas a partir de leituras prévias da literatura sobre aderência e abandono da prática competitiva (ALMEIDA, 2005; DAVIDOFF, 2001; PRESIDIO NETO, 2003) e mais tarde comparadas a achados na literatura específica (PENNA, 2001; FERRACIOLI, 2002).
Fizeram parte da amostra do estudo cento e trinta praticantes da Natação competitiva filiados à Federação Baiana de    Desportos Aquáticos (FBDA), de um total de quatrocentos e trinta, sendo 83 do sexo masculino e 47 do sexo feminino, com faixa etária dos 11 aos 23 anos. A amostra, aleatória, constitui-se de aproximadamente trinta por cento do total de atletas inscritos e atuantes na Federação acima citada.

DESCRIÇÃO

NUMÉRICO

PERCENTUAL

População

430

100%

Amostra

130

30,23%

Indivíduos do sexo feminino

47

36,15%

Indivíduos do sexo masculino

83

63,85%

Tabela 1. População e amostra.

    Os dados foram coletados na Associação Atlética da Bahia (AAB), por ocasião do Campeonato Baiano de Verão, evento que reuniu considerável parcela da população em foco, de diferentes cidades baianas.
    O procedimento foi divulgação e explicação acerca dos objetivos da aplicação da pesquisa pela anunciadora da competição, distribuição de questionários e, depois de respondidos, recolhimento dos mesmos. A coleta de dados foi realizada durante o desenrolar da competição com a autorização da Federação em questão. Os dados foram analisados através de estatística descritiva por freqüências, percentuais e correlações.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
    Com relação à questão sobre idade foram encontrados nadadores dos onze aos vinte e três anos de idade, e uma maior participação nesta modalidade de atletas com idades entre doze e quinze anos. Este dado, quando relacionado com outros, fornece informações mais consistentes sobre as questões que tangem motivação.
    Analisando o tipo de relação que o atleta acha ter com o técnico encontrou-se: um maior percentual de atletas que sentem-se amigos dos seus técnicos nas categorias juvenil e junior, enquanto nas categorias infantil (13 e 14 anos), petiz (11 e 12 anos) e sênior (20 anos ou mais) os percentuais foram cada vez menores(gráficos 01 a 05). Sendo o técnico um interventor direto na vida do atleta, os dados apontam para a necessidade de se cultivar relacionamento agradável com os nadadores como fator que pode interferir positivamente nos treinamentos.

Gráficos (ver o artigo na íntegra com o autor)

    Foram encontrados 75% de atletas com um ano ou mais de federado e apenas 25% de atletas com menos de um ano inscritos na federação baiana. Possivelmente, este dado relaciona-se com a questão que envolve dores durante os treinamentos. Uma vez que o atleta está envolvido a mais tempo com competições oficiais, as cobranças por resultados aumentam e por conseqüência os treinamentos também (gráficos 06 e 07).

    Quanto aos motivos que levam um atleta a praticar natação competitiva foram encontrados: o gosto pela prática em 80% dos questionários é considerado o motivo principal, em 16% dos casos secundário e para 4% o aspecto "gostar de praticar" não é considerado motivo importante; as viagens em 48% são consideradas motivo principal, em 41% motivo secundário e em 11% não são importantes; o motivo "nadar por causa das amizades em 48% dos casos é considerado principal motivo, em 46% um segundo motivo e em apenas 6% um motivo sem importância; os que praticam a natação competitiva tendo como motivo principal "gostar do técnico" são 45%, como motivo secundário são 44% e os que não consideram este um motivo importante 11%; os que praticam, sobretudo por que são cobrados pela família constituem 27% da amostra, os que tem este motivo como secundário 35% e os que não são influenciados por este motivo, 11%; os que vêem a fama como seu principal motivo são 24%, como motivo secundário, 25%, e os que não encontram nela motivo para nadar, 51%; profissionalizar-se através da natação é motivo principal para 24% dos entrevistados, para 31% é motivo secundário e como um motivo não relevante, 45%; os que praticam natação competitiva para obter respeito como motivo principal são 22%, como motivo secundário, 32% e como motivo sem importância, 46%. Os dados demonstram a relevância do técnico, das viagens e dos colegas de treinamento para a motivação. Por outro lado, a fama e a natação profissional parecem não ser grandes atrativos para a maioria dos atletas baianos.
    Para grande parcela de atletas é importante que alguém se interesse por sua vida de atleta: 74% dos nadadores importam-se com isto, contra 26% que não se importam. Dos nadadores que se importam 93% preferem que sua família acompanhe sua trajetória, 3% preferem os colegas, 2% preferem o próprio técnico e 2% a namorada. Dos atletas que preferem ser acompanhados pela própria família, 50% sempre são acompanhados por ela, 39% só são acompanhados às vezes e 11% nunca são acompanhados. De acordo com os dados, a maioria dos atletas tem o apoio que esperam da família, outra parcela razoável de familiares não é tão assídua e, juntamente com os que nunca acompanham seus atletas podem interferir em seu desempenho emocional.
    Quanto ao horário de treinamento, 55% dos atletas preferem treinar à tarde, 32% pela manhã e 13% à noite. Apesar da maioria dos atletas preferirem treinar a tarde, o ritmo circadiano tem seu principal pico pela manhã. Em relação ao treinamento propriamente dito, para a maioria, 49%, as séries curtas são mais atrativas, contra 20% que preferem séries longas e 31% que não se importam com o tamanho das séries.
    Quando perguntados sobre quantos dias gostariam de ficar sem treinar 48% responderam que nenhum, 35% somente um dia, 13% dois dias e 4% três dias.
    Os aspectos do treinamento citados como mais motivantes pelos atletas foram: colegas 29%, técnico 28%, tiros de velocidade 16%, resultados positivos 6%, series longas 4%; educativos, treino de perna e treino de braço cada um com 3%; e, viagens, reconhecimento, premiações, series curtas, alongamentos, treinar em locais diferentes, patrocínio e competições cada um com 1%. Os mais desmotivantes foram: broncas do técnico e cansaço 21% cada um; series longas 18%, falta de patrocínios 8%, piscina suja 5%, treinar sozinho e treinos de perna 4% cada um; água da piscina gelada 3%, desatenção do técnico, tiros de velocidade e educativos 2% cada um; treinos não personalizados, treinos longos, competições, falta de atenção do técnico, treinar em feriados, treino de braço, resultados ruins, poucos atletas treinando 1% cada um. Em acordo com o já descrito acima, estes últimos achados demonstram mais uma vez a importância da companhia dos colegas de treinamento e o posicionamento do técnico frente ao seu atleta.
    Com relação aos aspectos motivantes de sua vida de atleta foi encontrado: colegas 23%, viagens 15%, competições 20%, prêmios 12%, reconhecimento 11%, conhecer pessoas e locais novos 9%; treinos, patrocínio, resultados positivos e técnico 2% cada um; cansaço e presença de atletas do sexo oposto 1% cada um. Os aspectos competições e divertimento. Os aspectos mais desmotivantes de sua vida como atleta foram: não ir a festas 26%, falta de patrocínios 25%, cansaço 18%, cobranças e dores 5% cada um; treinos não personalizados, problemas familiares, treinar em feriados, técnico, ombros largos, falta de reconhecimento e falta de atletas do sexo oposto 3% cada um.
    Quanto ao local de treinamento, 41% dos atletas preferem treinar sempre na mesma piscina, para 35% deles não faz diferença, 23% preferem treinar em piscinas e locais diferentes e 1% dos entrevistados não conhece outros espaços de treinamento.
    Em relação aos locais de competições 71% dos atletas preferem competir na maior quantidade de locais possível, inclusive em outras cidades. Para 8% é preferível competir sempre no mesmo clube. Outros 8% preferem competir em clubes diferentes porém da mesma cidade. Para 8% não faz diferença e 5% ainda não competiram em outra cidade. Estes dados reforçam a idéia da importância das viagens a locais diferentes já abordada anteriormente para atletas competidores.
    Quando perguntados sobre a importância da companhia dos colegas de treinamento fora dos horários de treino, 81% disseram fazer questão da presença destes colegas, 14% gosta da companhia, mas fora das piscinas preferem estar com outras pessoas e, 5% não acha interessante estar com os colegas nadadores. É possível que a incrementação de momentos extra treinos para os atletas possibilite uma diminuição das brincadeiras no treinamento e uma maior coesão do grupo.
    Outro fator que parece interferir na motivação de atletas que treinam horas diárias é a rotina e a monotonia. Foi perguntado se estes atletas praticavam algum outro esporte além da natação e 50% responderam que não, 45% responderam que praticam às vezes e 5% praticam outro esporte todos os dias. Praticar outro esporte parece quebrar a rotina dos treinamentos repetitivos.     Este fato é corroborado pelo pensamento de Presídio (2003) e Almeida (2005).
    O cansaço parece ser mais um aspecto que interfere na motivação de atletas de alto nível. Foram encontrados 54% de atletas que saem dos treinos cansados, 22% muito cansados e 2% extenuados. Somente 14% saem dispostos e 8% muito dispostos. Almeida (2005), alerta para o fato de não se exercitar até o ponto de exaustão.
    A maioria dos atletas relatou não pensar em sair no meio da sessão (39%), porém um percentual muito próximo, 35%, pensa pelo menos uma vez por semana em abandonar a sessão no meio, 8% disseram que este tipo de pensamento acontece em média duas vezes e 18% mais de duas vezes por semana.
    Quanto aos principais motivos que poderiam fazê-los deixar de treinar, 35% mencionaram os estudos, 30% o cansaço, 27% a preguiça, 6% o namoro e 2% o técnico. Quando estes dados são analisados por categorias os valores são: Para a categoria petiz, 44% deixariam de treinar por conta dos estudos, 28% por preguiça, 22% por cansaço, 6% o namoro. Na categoria infantil, 33% por cansaço, 32% deixariam de treinar por conta dos estudos, 31% por preguiça, 2% o namoro e 2% por conta do técnico. No juvenil, 40% deixariam de treinar por conta dos estudos, 29% por cansaço, 24% por preguiça, 7% o namoro. Para os da categoria junior, 30% deixariam de treinar por conta dos estudos, 20% por cansaço, 20% por preguiça, 20% o namoro e 10% por conta do técnico. Na categoria sênior 100% dos entrevistados justificaram o cansaço como maior motivo para deixar de treinar. Parece haver uma proporção dentro das categorias dos valores de cansaço e preguiça. À medida que a justificativa para deixar de treinar por cansaço aumentou, cresceu também os que alegaram preguiça. Isto pode significar que uma carga de trabalho muito grande, para além do cansaço pode desestimular os nadadores.
    A relação entre técnico e atleta foi observada e parece haver uma grande influência dos elogios que o técnico faz aos seus nadadores sobre a qualidade desta relação, concordando com o pensamento de Picolli (2005). De acordo com os dados, quanto mais elogio dispensados pelos técnicos, melhor o tipo de relação percebida pelo atleta, o que segundo o exposto anteriormente, interfere em sua motivação (gráficos 08 a 11).

Gráfico 08 - Relação atleta x técnico Gráfico

09 - Relação atleta x técnico
sem elogios. com elogios escassos.

Gráfico 10 -
Relação técnico x atleta Gráfico
Gráfico 11 - Relação técnico x atleta
com elogios esporádicos.
com elogios freqüentes.

   No inicio de cada temporada 38% dos atletas sempre traçam as metas atingíveis com seus técnicos, 33% somente às vezes e 29% não participa do processo de elaboração de metas. Parece haver um compromisso maior dos atletas quando eles participam ou decidem seus objetivos. Isso em acordo com o dado da questão seguinte onde 50% dos atletas treinam pensando nas metas traçadas, 43% dos atletas somente às vezes relaxam na observação das metas e 7% não observa as metas.
   Quanto à diversidade de materiais utilizados durante os treinamentos 75% dos atletas acham muito importante e deveriam sempre ser utilizados, 15% acham importante mas preferem séries e repetições e apenas 10% não acha o uso de materiais diversificados importante.
   Foram perguntados sobre as correções técnicas durante os treinos e 4% deles não gostam de serem corrigidos, 61% preferem ser corrigidos esporadicamente e 35% gostam de serem corrigidos constantemente. Este dado é importante pois abrir mão de algumas correções podem ser um ganho em relação aos atletas que sentem incomodados em serem corrigidos constantemente.
   A maioria dos atletas, 80%, preferem não opinar sobre a confecção dos treinamentos enquanto 20% acha importante opinar. Se tivessem que modificar alguma coisa nos treinamentos ou competições 65% não mudaria nada, 6% diversificaria mais os treinamentos, 5% gostaria de maiores premiações, 4% maiores patrocínios, outros 4% diminuiria as séries longas dos treinos, os outros 19% juntos gostariam de ter uma equipe maior, maior proximidade com o técnico, piscinas melhores, diminuiria a carga de treinamentos, colocaria recreação uma vez por semana nos treinamentos, colocaria um numero maior de séries de velocidade, mudaria o horário de treinamento, escolheria as próprias provas de competição, divulgaria melhor a natação e diminuiria a duração das competições.
   Os gritos dos técnicos são vistos por 52% dos atletas como motivantes. 22% não gostam dos gritos, para 20% não faz diferença e 6% sentem-se constrangidos.
   O ultimo dado coletado diz respeito à cobrança dos técnicos. 44% sentem-se cobrados pelos técnicos, mas este fato não os incomoda, 28% sentem-se cobrados e este fato incomoda muito, 28% acham que seus treinadores os deixam a vontade. Knijnik; Greguol e Sileno, (2001), menciona a cobrança exagerada de pais e técnicos como desmotivadora.

CONCLUSÃO
    A pesquisa identificou vários fatores interligados e que podem interferir na motivação de atletas nadadores da Bahia.    Os aspectos encontrados na pesquisa como intervenientes na motivação relacionam-se com os aspectos encontrados na revisão de literatura: relacionamento interpessoal, horários e locais de treinamento, elogios recebidos, etc. A pesquisa detectou que, os principais motivos que levam um nadador a manter-se competindo e federado são a companhia dos outros atletas, as viagens e a relação com seu técnico, que é fortemente influenciada pelos elogios dispensados pelos técnicos aos atletas. Obter respeito, fama ou profissionalizar-se não são fomentadores da prática competitiva para os nadadores. Porém, todos os aspectos analisados interferem de alguma forma em sua motivação, fazendo-os empenhar-se mais ou menos em sua vida de atleta.
   Pode-se inferir da pesquisa, em última análise que a atenção voltada aos diferentes aspectos que permeiam a rotina da natação competitiva pode prolongar a vida ativa de atletas, bem como sua dedicação durante este período.
   Portanto, a motivação pode ser alterada através destes incentivos externos propiciando um estado diferente do anterior, seja em balanço positivo ou negativo.

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