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 TREINO DE FORÇA PARA O
              KARATECA DO ESTILO SHOTOKAN ESPECIALISTANO KUMITE
      O treino de força
        para o karateca do shiai kumite (luta de competição) regulamentado
        pela JKA (Japan Karate Association) e pela ITKF (International Traditional
        Karate Federation) merece ser prescrito em poucos centésimos ou
        segundos, em máxima velocidade, com predomínio no metabolismo
        anaeróbio aláctico e através dos exercícios
        da preparação de força especial. O treino de força
        para o karateca do shiai kumite merece ser realizado através da
        força máxima, força rápida, musculação
        balística, treino de potencialização, treino de
        força reativa e treino de soco e/ou de chute no makiwara e no
        sunatawara. Conclui-se que o treino de força para o karateca do
        shiai kumite (luta de competição) merece estruturado e
        prescrito através dos esforços da luta e de acordo com
        a biomecânica das ações de ataque e de defesa para
        desenvolver um treinamento específico e condizente com a realidade
        dos lutadores.
 Palavras-chave: Artes Marciais, Treinamento de Resistência, Desempenho
        Atlético.
 INTRODUÇÃOO karatê de estilo shotokan de competição que está de
          acordo com os ensinamentos do seu idealizador, o mestre Gichin Funakoshi,
          durante o combate, é regulamentado pela JKA (Japan Karate Association)
          e pela ITKF (International Traditional Karate Federation). Funakoshi
          ensinava que apenas um golpe decidiria a luta, e utilizava a expressão
          ikken hissatsu que significa matar com um ataque o oponente caso o
          combate fosse real ou praticar uma técnica ofensiva precisa
          durante o treino sem causar dano no oponente (Stevens, 2007).
 Essa arte marcial nos seus primórdios só tinha o intuito
          proporcionar para o karateca a defesa pessoal ou melhorar o aspecto
          físico, mental e do carácter do praticante através
          de um treino que exigia um estudo intenso (Frosi e Mazo, 2011; Martins
          e Kanashiro, 2010).
 Posteriormente, precisamente em 1936 – aconteceu a primeira competição
          de karatê shotokan (Nakayama, 2012), e principalmente em 1970 – ocorreu
          o primeiro Campeonato Mundial do karatê shotokan, sendo difundido
          em vários países do mundo e classificado atualmente como
          esporte de combate (Girardello, 2004).
 Por esse motivo que no treino e durante a luta (kumite) de competição
          (shiai) o karateca efetua poucos ataques, visando terminar o combate
          com um único golpe. Outras diretrizes do karatê shotokan é evitar “trocação” de
          socos e de chutes durante a luta, o karateca se preocupa primeiro em
          não receber golpe, por esse motivo os lutadores dessa modalidade
          costumam estudar (denominada de ação tática) o
          oponente e se posicionam numa distância adequada para atacar
          e se defender (Ajamil e colaboradores, 2011).
 Porém, quando o lutador perceber uma oportunidade de ataque,
          aí é efetuada a tarefa ofensiva com máxima velocidade
          visando à precisão do golpe ou o karateca pode defender
          e contra-atacar ou se antecipar a tarefa ofensiva do adversário
          com um ataque preciso (Sertic, Segedi e Vidranski, 2012).
 O sistema de pontuação pela JKA e pela ITKF decide a
          luta através de um golpe ou com poucos ataques. Em caso de um
          golpe perfeito é marcado um ippon e em caso de um segundo waza-ari
          equivale a um ippon, nas duas situações o combate acaba.
          Esse esporte de combate segue os ensinamentos de Funakoshi, a não
          violência, os golpes só valem no tronco do oponente através
          de leve contato, merecendo que a técnica ofensiva seja interrompida
          3 centímetros antes de atingir o alvo (Iide e colaboradores,
          2008).
 Caso um karateca derrube o oponente com uma rasteira (ashi barai),
          o soco será efetuado sem contato. O kumite tem duração
          de 1 minuto e 30 segundos a 2 minutos, não tendo divisão
          dos lutadores por peso. A área de luta é de 8x8 metros
          com piso coberto por EVA, e os karatecas devem usar protetor bucal,
          luva e protetor de seios para as mulheres.
 O treino do karatê shotokan desencadeia adaptações
          fisiológicas, biomecânicas da técnica esportiva
          e neuromusculares conforme o tempo de prática do lutador (Sbriccoli
          e colaboradores, 2010), de acordo com a carga de treino efetuada ao
          longo dos meses (Mohamed, 2012) e está relacionada com a especialidade
          do lutador em uma ou mais disputas do karatê – kumite,
          kata (luta imaginária) etc (Koropanovski e colaboradores, 2011).
 Atualmente um treino do karatê embasado cientificamente é conduzido
          através de uma periodização que organiza a carga
          e as atividades das sessões (físico, técnico,
          situacional, tático e competitivo) com o objetivo de melhorar
          ao máximo o desempenho esportivo do karateca na disputa (Pesic
          e colaboradores, 2012).
 Porém, para o preparador físico prescrever
          o treino físico
          de um lutador, especificamente do karatê shotokan, precisa recorrer
          aos estudos sobre os esforços dessa modalidade para identificar
          a solicitação metabólica, determinar as capacidades
          motoras requeridas durante a luta – força, flexibilidade
          e outros, reconhecer o tempo de tarefa ativa e passiva do combate e
          saber quais ataques e defesas são mais eficazes durante a luta
          (Beneke e colaboradores, 2004; Benedini e coalboradores, 2012), todas
          essas informações permitem a estruturação
          e prescrição de um treino físico simulando um
          momento do combate (Del Vecchio, Hirata e Franchini, 2011) ou o treino
          físico de força e/ou metabólico é realizado
          o mais específico possível com as exigências da
          luta – no metabolismo energético solicitado no combate,
          no tipo de força desempenhada na luta e outros (Del Vecchio
          e Franchini, 2013; Barbanti, 2010).
 Entretanto quando são consultados estudos atuais (Martins, 2013;
          Zvonar e colaboradores, 2012; Witte e colaboradores, 2012) e antigos
          (Ravier e colaboradores, 2005, 2009; Milanez e colaboradores, 2011)
          e da literatura aliada (Kraemer e Häkkinen, 2004; Oliveira, 2008)
          sobre o treino de força para o karatê shotokan, não
          foi evidenciado nenhuma investigação para o karateca
          especialista no shiai kumite (luta de competição). Em
          uma revisão sobre o “estado da arte” dos estudos
          sobre os esportes de combate também não é citado
          nenhum trabalho sobre o treino de força para o karatê (Franchini
          e Del Vecchio, 2011). Que tipo de força na musculação
          merece ser trabalhada no karateca do kumite? O treino de força
          reativa deve ser exercitado pelo karateca?    Quais exercícios
          merecem ser elaborados para os lutadores do karatê?
 Sabendo dessa lacuna na literatura do karatê shotokan, foram
          realizados buscas nas bases de dados Bireme (www.regional.bvsalud.org/),
          PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), Periódicos CAPES (www.periodicos.capes.gov.br/),
          DOAJ (www.doaj.org/), EBSCO (www.ebscohost.com/), SCIELO (www.scielo.org/),
          ScienceDirect (www.sciencedirect.com/), OASISBR (www.oasisbr.ibict.br)
          e Google Acadêmico (www.google.com.br/), por meio dos descritores
          karate, strength training in karate, treino de força no karatê,
          drop jump in karate, plyometric training in karate, depth jump in karate,
          plyometric training, strength training, power training, energy system
          e anaerobic energy, no período de 1970 a 2013.
 Foram selecionados 76 artigos, 1 tese de doutorado, 1 manual de biomecânica,
          2 dissertações de mestrado, 1 tese de livre docência,
          1 monografia de graduação e 39 livros que possibilitaram
          embasamento científico para elaboração do treino
          de força para o karatê shotokan.
 O objetivo da revisão foi apresentar os esforços e a
          biomecânica do karateca no shiai kumite e o treino de força
          para o karateca especialista na luta.
 
 ESFORÇOS E BIOMECÂNICA
          DO KARATECA DO SHIAI KUMITE
 O shiai kumite (luta de competição) do karatê shotokan
          possui um combate com duração entre 1 minuto e 30 segundos
          a 2 minutos (Marques Junior, 2012), mas o tempo das lutas costuma ser
          breve (Sterkowicz-Pryzybycien, 2010).
 Segundo Bessa (2009), 80% das lutas do karatê terminam em menos
          de 50 centésimos e 20% dos combates acabam entre 50 centésimos
          a 1 segundo e 30 centésimos. Portanto, um trabalho físico
          específico para essa modalidade precisa ser de curta duração
          e em máxima velocidade (Chaaabène e colaboradores, 2012b;
          Moura, Almeida e Sampedro, 1997).
 O shiai kumite do karatê shotokan é um esporte com componente
          aeróbio e anaeróbio (Doria e colaboradores, 2009). Conforme
          o momento da luta uma solicitação metabólica tende
          predominar (Voltarelli e colaboradores, 2009).
 A atividade do karateca durante o combate é acíclica
          e ocorre através de esforços intermitentes, onde o lutador
          efetua esforço e pausa (Milanez e colaboradores, 2012).
 A pausa durante o kumite geralmente acontece após a interrupção
          do árbitro para marcar um ponto ou uma infração,
          tendo duração entre 2 segundos a 4 minutos (Beneke e
          colaboradores, 2004).
 A ação tática do kumite, momento que o lutador
          estuda o oponente antes de fazer o ataque, pode ser predominantemente
          aeróbia ou anaeróbia (aláctico ou láctico),
          depende da velocidade das ações do karateca, da duração
          dessa atividade e do tempo de pausa que antecede a essa tarefa (Arriaza,
          2009).
 A ação de ataque e da defesa do karateca no kumite é em
          máxima velocidade com ênfase na força rápida
          e no fim da técnica ocorre uma força isométrica
          para ocasionar o kime (final do golpe ou da defesa onde toda energia
          mental e física se concentram em uma ação) (Chaabène
          e colaboradores, 2012b), que geralmente é precedido do kiai,
          um grito onde o lutador libera máxima energia para ocasionar
          maior força possível (Nakayama, 2012b).
 O sistema energético predominante no ataque
          e na defesa do karateca durante a luta é através do metabolismo
          anaeróbio
          aláctico, mas se a pausa for breve e ocorrer uma ação
          tática de alta velocidade, seguido de uma ação
          de ataque ou de defesa o sistema energético mais solicitado
          será o anaeróbio láctico (Roschel e colaboradores,
          2009).
 Marques Junior (2012b) evidenciou uma duração próxima
          da ação tática, da ação de ataque
          e da pausa do shiai kumite feminino e masculino do campeonato brasileiro
          JKA de 2012. A ação tática o feminino realizou
          em 8,58 ± 8 segundos e o masculino em 11,40 ± 10 segundos,
          a ação de ataque ocorreu em 2,66 ± 1,71segundos
          no feminino e 1,75 ± 0,70 segundos no masculino e o tempo de
          pausa efetuado pelo árbitro foi de 15,33 ± 15,01 segundos
          no feminino e 18,68 ± 18 segundos no masculino. O mesmo autor
          encontrou tempos de ataque em máxima velocidade do shiai kumite
          feminino e masculino compreendendo na duração apresentada
          na Figura 1 e 2.
 
 Figura
          1 e 2 baixar o texto para ver na íntegra
    Essa máxima
          velocidade do ataque feminino e masculino são importantes para
          o preparador físico
          estruturar e prescrever o treino de força para o karateca do
          shiai kumite porque esses valores servem como parâmetro para
          a velocidade dos exercícios de musculação e de
          força reativa, podendo ser utilizado nas estações
          do circuito de força (Fleck e Kraemer, 1999), merecendo que
          os exercícios sejam efetuados conforme as diretrizes da preparação
        de força especial, simulando a técnica esportiva (Verkhoshanski,
        1995).Os sistemas de energia atuam em conjunto em qualquer atividade, mas conforme
        a velocidade da tarefa, a duração da atividade e o tempo
        de pausa – se tiver, um dos metabolismos tende predominar (Spencer
        e Gastin, 2001; Glaister, 2005).
 Em uma ação de máxima velocidade de até 10
        segundos, 94% de solicitação metabólica é anaeróbia
        e 6% é aeróbia (Gastin, 2001). Portanto, a duração
        do ataque do shiai kumite feminino e masculino é predominantemente
        anaeróbio. O maior ou menor componente anaeróbio aláctico
        e láctico está relacionado com a duração
        do estímulo, velocidade de execução e tempo da pausa
        se tiver (Bertuzzi e colaboradores, 2013; Artioli e colaboradores, 2012).
        Em uma máxima contração isométrica no período
        de 30 segundos as concentrações de fosfocreatina e da glicólise
        anaeróbia láctica são menos ou mais solicitadas
        conforme a duração do exercício, sendo exposto na
        Figura 3 (Maughan, Gleeson e Greenhaff, 2000).
 Em outro estudo similar, Bangsbo (1996) observou que pedalar até a
        exaustão no cicloergômetro com uma carga de 63 watts (W)
        a solicitação metabólica é diferente até 20
        segundos quando comparado no período de 2 minutos e 28 segundos
        (2 min e 28 s é igual a 148 segundos, tempo da exaustão).
        Os dados são expostos na Figura 4.
 
 Figura
        3,4,5 e 6 baixar o texto para ver na íntegra
 
 Nessa mesma linha de pesquisa, Gaitanos e colaboradores (1993) evidenciaram
        que após 6 segundos de máxima velocidade no cicloergômetro
        e tendo 30 segundos de intervalo, a participação anaeróbia é diferente
        dos substratos energéticos (adenosina trifosfato = ATP, fosfocreatina
        e glicólise anaeróbia láctica) entre o primeiro
        e o último estímulo, o décimo. A figura 5 ilustra
        esse ocorrido.
 O preparador físico do karateca do shiai kumite (luta de competição)
        deve estar ciente que é similar a esses experimentos que o metabolismo
        energético do lutador atua durante o combate, merecendo que a
        estruturação e a prescrição do treino de
        força tenha uma solicitação metabólica o
        mais parecida possível com a requerida na luta (McArdle, Katch
        e Katch, 2011). Ênfase no metabolismo energético anaeróbio
        aláctico e menor estímulo do treino de força no
        metabolismo anaeróbio láctico (Marques Junior, 2012b).
 Quando a prioridade do treino for o metabolismo anaeróbio aláctico,
        as tarefas merecem ser em máxima velocidade e a pausa passiva
        deve ter tempo suficiente para restaurar esse sistema de energia, caso
        isso não aconteça, o esportista vai estar se exercitando
        com predomínio no metabolismo anaeróbio láctico
        (Spencer e colaboradores, 2008).
 Mas porque isso acontece? Por exemplo, em uma corrida de máxima
        velocidade na distância de 100 metros (m), os estoques de fosfocreatina
        são degradados e a velocidade até 40 m tende ser muito
        alta, vindo diminuir nos 30 m finais porque a fosfocreatina reduz bastante
        (Pereira e Souza Junior, 2004).
 Porém, após o estímulo o intervalo passivo precisa
        restaurar os estoques de fosfocreatina e a ATP que foram utilizados na
        corrida de 100 m, caso contrário, o trabalho será predominante
        láctico. A figura 6 mostra a depleção da fosfocreatina
        na corrida de 100 m.
 Com o intuito de orientar o trabalho do preparador físico do karatê na
        prescrição do treino no metabolismo anaeróbio aláctico
        e em menor participação no sistema láctico, é apresentada
        a tabela 1 para nortear o treino de força (Janssen, 2001; Marques
      Junior, 2012c).
 
          
            | Tabela 1 - Atividade dos três sistemas de energia |  
            | Metabolismo Energético Predominante | Velocidade da Ação | Ressíntese da ATP-CP |  
            | 1) Anaeróbio Aláctico (ATP):
                1 a 5 segundos (s)
 
 | velocidade muito alta | 30 s = 50%1min = 80%
 |  
            | 2) Anaeróbio Láctico (ATP + CP):
            6 a 15 segundos
 
 | velocidade muito alta | 1min 30 s = 88%2 a 3 min = 90%
 4 a 5 min = 100%
 |  
            | 3) Anaeróbio Aláctico (ATP + CP) + Anaeróbio
              Láctico (glicogênio muscular): 16 a 30 segundos
 
 | velocidade alta | - |  
            | 4) Anaeróbio Láctico (glicogênio
                muscular): 31 segundos a
1 minute (min) e 59 segundos
 | velocidade alta | - |  
            | 5) Anaeróbio Láctico (glicogênio muscular)
              + Aeróbio (glicogênio muscular): 2 a 3 minutes 
 | velocidade alta | - |  
            | 6) Aeróbio (glicogênio muscular + ácidos
              graxos): 1 segundo a 3 minutos ou mais 
 | velocidade baixa a média | - |  Figura
            7 baixar o texto para ver na íntegra 
 Seguindo os ensinamentos da preparação
de força especial
proposto por Verkhoshanski (1993, 2000), o treino de força deve ser realizado
com o gesto esportivo da modalidade e com a velocidade similar ou igual ao da
técnica esportiva. No shiai kumite (luta de competição)
do karatê shotokan feminino e masculino os golpes que fazem mais pontos
e as defesas mais utilizadas são os seguintes: gyaku zuki tchudan (soco
com reversão no tronco), kizami zuki tchudan (soco com a mão da
frente da guarda no tronco), oi zuki tchudan (soco com deslocamento para frente
no tronco), mae geri kekomi (chute frontal no tronco), mawashi geri (chute semicircular
no tronco), gedan barai (defesa baixa) e soto uke (defesa de fora para dentro)
(Marques Junior, 2012, 2012d; Marandi, Zolaktaf e Batavani, 2010). A velocidade
linear dos golpes que fazem mais pontos no shiai kumite é a seguinte (Marques
Junior, 2012e): 15,76 ± 5,45 metros por segundo (m/s) do mae geri kekomi,
9,2 ± 2,85 m/s do gyaku zuki tchudan, 8 ± 3,24 do mawashi geri
kekomi, 7,1 ± 1,88 m/s do kizami zuki tchudan e 5,83 ± 2,54 m/s
do oi zuki tchudan. Convertendo a velocidade linear desses golpes para centésimos
e para segundos (Centésimos = velocidade linear: 100 e Segundos = velocidade
linear: 60), o resultado fica da seguinte maneira para ser utilizado no treino
de força (Figura 7).
 Outro quesito que é muito importante para o preparador físico utilizar
na preparação de força especial é determinar através
de uma análise biomecânica os movimentos articulares de cada técnica
esportiva com o intuito de facilitar na estruturação e prescrição
do treino de força, principalmente no praticado na musculação
(Marques Junior, 2001). Baseado em algumas referências que fizeram análise
biomecânica dos golpes que realizam mais pontos e das defesas mais utilizadas
no shiai kumite (luta de competição) é possível efetuar
tal tarefa. A tabela 2 expõe os resultados dos movimentos articulares
que podem ser trabalhados com halter barra e anilha, medicinebol e tornozeleira.
 
 Tabela 2 - Movimentos articulares dos golpes
e das defesas do karatê shotokan
 
          
            | Golpe | Movimento Articular Indicados para o Treino de Força | Referência |  
            | Gyaku zuki Tchudan (soco) | Membro Superior do Soco: extensão do ombro seguido de rotação
interna do mesmo, extensão do cotovelo e pronação do antebraço.
 Membro Superior que não faz o soco: rotação externa do ombro
seguido de extensão do ombro, flexão do cotovelo e supinação
do antebraço.
 Coluna Vertebral: rotação seguido de extensão.
 Pelve: rotação seguido da báscula anterior.
 Membro Inferior na Base Zenkutsu Dachi (perna de trás): rotação
interna do quadril seguido de extensão do mesmo, extensão do joelho.
 Membro Inferior na Base Zenkutsu Dachi (perna da frente): flexão do quadril
e do joelho.
 | Noriega (2004), Souza (2002), Vencesbrito (2012)
 |  
            | Kizami zuki Tchudan (soco)
 | Membro Superior do Soco, Membro Superior que não faz o
              soco, Coluna Vertebral e Pelve: igual ao Kizami zuki Tchudan. Pelve e Coluna Vertebral durante o Kizami zuki Tchudan seguido do Gyaku zuki
Tchudan: rotação da pelve e rotação da coluna vertebral.
 | Mehanni (2004), Vieiro (2012)
 |  
            | Oi zuki Tchudan (soco) | Membro Superior do Soco, Membro Superior que não faz o soco, Coluna Vertebral
e Pelve: igual ao Kizami zuki Tchudan.
 Membro Inferior que se Desloca para Frente na Base Zenkutsu Dachi – perna
de trás (Oi zuki avançando): adução do quadril seguido
de flexão do mesmo e termina a ação com abdução.
O joelho faz flexão e extensão.
 Membro Inferior que se Desloca para Trás na Base Zenkutsu Dachi – perna
da frente (Oi zuki recuando): adução do quadril seguido de extensão
do mesmo e termina a ação com abdução. O joelho faz
flexão e extensão.
 | Marques Junior (2011), Vencesbrito (2012)
 |  
            | Mae geri Kekomi (chute) | Etapa Preparatória: rotação da pelve e da coluna vertebral
seguido de báscula anterior da pelve e extensão da coluna vertebral.
O membro inferior de chute efetua flexão do quadril e do joelho.
 Etapa de Chute: báscula anterior da pelve e extensão da coluna
vertebral. O membro inferior faz o chute com extensão do joelho e do quadril.
 | Pozo e colaboradores (2011)
 |  
            | Mawashi geri Kekomi (chute) | Etapa Preparatória: rotação da pelve e da
              coluna vertebral. Mínima abdução do quadril
              seguida de rotação interna do quadril com o joelho
              em flexão. Etapa de Chute: continua a rotação da pelve e da coluna vertebral.
Também continua a rotação interna do quadril com o joelho
efetuando extensão.
 | Quinzi e colaboradores (2012) |  
            | Kizami Gedan barai (defesa com o braço da frente da guarda) | Etapa Preparatória: rotação da pelve e da
              coluna vertebral. O membro superior que vai realizar a defesa faz
              rotação interna do ombro e flexão do cotovelo
              e o outro braço pratica extensão do ombro, flexão
              do cotovelo e supinação do antebraço. Etapa de Defesa: rotação da pelve e da coluna vertebral. O membro
superior que faz a defesa efetua rotação externa do ombro e extensão
do cotovelo e o outro braço continua a extensão do ombro, flexão
do cotovelo e supinação do antebraço.
 | D`Elia (1987)
 |  
            | Soto uke (defesa com o braço da frente da guarda) | Etapa Preparatória: o membro superior que vai praticar a
              defesa faz rotação externa do ombro com o cotovelo
              em flexão.
 Etapa de Defesa: faz a defesa com a rotação interna
              do ombro com o cotovelo em flexão e o antebraço acaba
              o movimento em supinação. O outro braço termina
              a extensão do ombro, a flexão do cotovelo e a supinação
              do antebraço.
 
 | D`Elia (1987) |  Após a leitura desse capítulo sobre o shiai kumite (luta
        de competição) referente aos esforços e a biomecânica
        das principais técnicas de ataque e de defesa do combate feminino
        e masculino torna-se possível elaborar o treino de força
        para o karateca do estilo shotokan JKA e ITKF.
 
 TREINO DE FORÇA
 O treino de força é caracterizado pela realização
        de exercícios que fazem uso de contrações voluntárias
        da musculatura esquelética contra qualquer tipo de resistência,
        podendo ser o próprio corpo, com pesos livres ou até mesmo
        com máquinas, sendo desenvolvido por meio de exercícios
        estáticos (isométricos) ou dinâmicos (isotônicos
        ou isocinéticos) (American College of Sports Medicine, 2000; Fleck
        e Kraemer, 2006). Para Graves e Franklin (2006) o treinamento para manter
        ou desenvolver a força e/ou a resistência muscular, é chamado
        de treino resistido, efetuado através do princípio da sobrecarga,
        este que é aplicado na medida em que os músculos se tornem
        capazes de gerar maiores níveis de esforços.
 O treino de força também já está muito bem
        elucidado quanto aos seus valores para área da saúde (Roschel,
        Tricoli e Ugrinowitsch, 2011), sendo que o mesmo serve como maneira preventiva
        para amenizar as lesões do ser humano (Marques Junior, 2001).
 O treino de força aplicado em atletas das mais variadas modalidades
        tem o intuito de melhorar o rendimento esportivo (Barbanti, Tricoli e
        Ugrinowitsch, 2004), por exemplo, um atleta para ser mais veloz, arremessar
        bem, ter um chute ou soco mais forte, pedalar com mais velocidade, precisa
        que o treino de força faça parte de seus treinamentos (Simão,
        2004).
 Em confirmação, Santarém (2012) afirma que o treino
        de força pode otimizar não só em atletas, mas em
        qualquer indivíduo diversas capacidades motoras: resistência
        muscular, força máxima, força rápida, e por
        fim ainda reduzir de força significativa o risco de lesões.
        Segundo Delgado (2002), o treino de força é o treinamento
        indispensável para qualquer tipo de atletas, com isso, compreende-se
        que indubitavelmente o treino de força deve ser incorporado na
        rotina de treino de um karateca do shiai kumite (luta de competição),
        levando em consideração que nesta modalidade o atleta necessita
        de várias habilidades que são desenvolvidas através
        do treinamento de força.
 Como já descrito, segundo Verkhoshanski (1995), um atleta precisa
        efetuar a preparação de força especial para simular
        ou aproximar ao máximo dos movimentos e velocidades utilizados
        na técnica esportiva propriamente dita.
 Portanto, os exercícios descritos foram ancorados no estudo de
        Marques Junior (2012b) e Bessa (2009), que respectivamente relataram
        que o ataque é executado no período de 1,75 ± 0,70
        segundos no masculino e 2,66 ± 1,71 segundos no feminino, onde
        80% das lutas não ultrapassam 50 centésimos de segundo.
        Caracterizando-se num treinamento enfatizado no componente anaeróbio,
        com predominância mais aláctica do que láctica (Bertuzzi
        e colaboradores, 2013).
 Tipos de força e tipos de treino de força indicados para
        o karateca do shiai kumite
 Para definição dos exercícios, serão previamente
        definidos os tipos de força e de treino de força utilizados
        nesta modalidade, que são: a) Força máxima, b) Força
        rápida, c) Musculação balística, d) Treino
        de potencialização, e) Treino de força reativa e
        f)
 Treino de soco e/ou de chute no makiwara e no sunatawara:
 a) Força máxima dinâmica: Basicamente, a força
        máxima dinâmica é considerada a maior força
        gerada pelo sistema neuromuscular contra uma máxima resistência
      (Ramos, 2000), cuja mesma independe do fator tempo (Santarém, 2012).
      Porém, para o desenvolvimento da força máxima Weineck
      (2005) acredita que há várias características envolvidas
      principalmente as biológicas.
 b) Força rápida: Segundo Santarém (2012), a aplicação
      rápida da força pode ser considerada como potência,
      sendo muito importante para os esportes que utilizam socos, chutes, saltos
      e arremessos, tendo em vista que estes gestos além de necessitarem
      de muita força, também precisam que esta seja executada em
      um menor tempo possível. Para o treino de força rápida,
      tanto a carga quanto a velocidade, devem ser trabalhadas perto do máximo,
      para que haja uma maior sincronia nos fatores intramusculares das unidades
      motoras (Carvalho e Carvalho, 2006).
 Para outros autores, a força rápida ou potência (nomenclatura
      norte-americana) ou força explosiva (nomenclatura russa) deve ter
      cargas entre 61 a 70% para os membros superiores e 66 a 79% para os membros
      inferiores (Marques Junior, 2006) ou 60 a 69% (Chiesa, 2002) ou 60 a 80%
      (Dantas, 1995), isso está de acordo com autor. Segundo Simão
      (2003), como a carga do treino de força rápida varia de indivíduo
      para indivíduo, ela é ainda uma incógnita.
 c) Musculação balística: A musculação
      balística é o mesmo treino do trabalho de força rápida
      numa execução balística, ou seja, consiste do esportista
      evitar a desaceleração do exercício de força
      através da liberação do implemento (arremesso da bola
      de medicine ball) ou execução de uma atividade que evite
      a perda do desenvolvimento da força rápida – agachamento
      com salto segurando a barra pequena com halter ou anilhas (Fleck e Figueira
      Júnior, 2003).
 d) Treino de Potencialização: Segundo Batista e colaboradores
      (2003, 2010) e Gourgoulis e colaboradores (2003) numa manifestação
      aguda de maior de desempenho de força rápida quando precedido
      por uma realização de exercício de força. Podendo
      assim o exercício de força rápida e/ou máxima
      servir de “aquecimento” para modalidades que necessitam de
      boas respostas de força rápida logo após o aquecimento
      (Cometti, 2001).
 Após o trabalho de força o atleta recruta mais unidades motoras
      gerando melhor performance de força na execução da
      técnica esportiva.
 e) Treino de força reativa: Consiste exatamente em uma ação
      onde alonga-se na fase excêntrica e encurta-se na fase concêntrica,
      esta ação é denominada de ciclo de alongamento e encurtamento
      (Barbanti, 2002; Fleck e Kraemer, 2006; Komi, 1984).
 O treino de força reativa também é descrito por Platonov
      (2004) como a força que é desenvolvida através de
      exercícios pliométricos que estimulam as contrações
      musculares podendo com isso, diminuir o tempo das respostas musculares.
      Porém, essa nomenclatura pliometria foi denominada primeiramente
      na Europa e posteriormente foi utilizada nos Estados Unidos (Dintiman,
      Ward e Tellez, 1999), vindo se popularizar mundialmente por esse país,
      mas o ex-soviético Yuri Vitali Verkhoshanski que desenvolveu metodologicamente
      esse treino considera mais adequada o nome treino de força reativa,
      melhor dizendo, método de choque (Verkhoshanski, 1998).
 Segundo Correa e Pinto (2006), o treino de força reativa que é executado
      através do ciclo de alongamento e encurtamento com exercícios
      de saltos verticais, horizontais, e também no ato de subir e descer
      degraus sucessivamente em alta velocidade. Em Bompa (2004), é possível
      identificar outros exercícios, pular corda, pular em um pé só,
      fazer flexão tirando o tronco do solo e outros.
 f) Treino de soco e/ou de chute no makiwara e no sunatawara: Makiwara significa
      enrolar com palha, local onde o golpe é desferido para amortecer
      o impacto da técnica ofensiva, sendo uma madeira na vertical fixada
      no solo (Spiezia e Maffulli, 2010).
 O sunatawara é o saco de pancada que fica fixado na parede, árvore
      ou no teto do dojô com o intuito do karateca realizar o soco e/ou
      o chute (Silvares, 1987). Ambos os instrumentos visam o aumento da força
      do ataque do lutador.
 Treino de musculação de força rápida, treino
      de musculação de força máxima e treino de musculação
      balístico para o karateca do shiai kumite
 O treino de musculação de força máxima e/ou
      força rápida pode ser prescrito em um mesmo treino ou ser
      realizado separadamente, isso está de acordo com o objetivo da sessão
      (Badillo e Ayestarán, 2001).
 Para alguns pesquisadores, a musculação de força máxima é um
      pré-requisito para desenvolver ao máximo a força rápida
      (Dechechi e colaboradores, 2010; Moreira e colaboradores, 2004; Verkhoshanski,
      1999).
 Porém, executar em demasia a musculação de força
      máxima pode comprometer o desenvolvimento da força rápida
      porque os mecanismos neurais e hipertróficos são otimizados
      para gerar força máxima numa execução lenta
      (Oliveira, 2008; Linnamo e colaboradores, 2000).
 Entretanto, Cometti (2001) recomendou o trabalho de força máxima
      numa alta velocidade com o intuito de maximizar a força rápida
      e permitir que a sobrecarga cause um incremento na execução
      veloz da técnica esportiva.
 Todavia, Lamas e colaboradores (2008) evidenciaram que o treino de força
      máxima e o treino de força rápida otimizam significativamente
      (p = 0,05) a força máxima e a força rápida
      dos membros inferiores. Esses resultados levaram os autores desse estudo
      na seguinte conclusão:
 Adaptações semelhantes podem indicar a equivalência
      dos estímulos do treino de força máxima e do treino
      de força rápida, levando a uma reflexão crítica
      sobre a organização de um processo de treinamento envolvendo
      períodos distintos de força máxima e força
      rápida (p. 243).
 Portanto, pode-se concluir que a literatura sobre o treino de força
      máxima e de força rápida ainda não é bem
      definida no aspecto metodológico porque as investigações
      não determinaram qual é a melhor maneira para prescrever
      essas duas capacidades motoras na musculação para maximizar
      a força rápida do karateca do shiai kumite (luta de competição).
 Não se pode esquecer que no fim do exercício da musculação
      de força rápida e de força máxima o karateca
      do shiai kumite (luta de competição) deve efetuar uma contração
      isométrica para reproduzir o kime (final do golpe ou da defesa onde
      toda energia mental e física se concentram em uma ação).
 Para execução do treino de força rápida e/ou
      força máxima e/ou balístico, o ideal é que
      a carga seja controlada de maneira adequada, certificando-se das capacidades
      motoras especificamente treinadas. Para calcular o peso do treino (PT),
      faz-se uma fórmula simples sendo PT igual ao peso máximo
      do teste vezes carga de treino em % dividido por 100, sendo igual à ?
      quilogramas (kg), após o cálculo repete-se o exercício
      na carga contabilizada onde o professor observará a técnica
      de execução do praticante percebendo se a carga está ou
      não adequada (Kraemer e Häkkinen, 2004).
 Baseado no princípio da especificidade descrito por Powers e Howley
      (2009), embora o treinamento com pesos livres e o treinamento com máquinas
      ainda sejam muitos discutidos, o primeiro exige uma maior estabilização
      das articulações trabalhadas, podendo-se dizer que há um
      aumento na atividade muscular. Portanto, pesos livres, tornozeleiras, e
      medicinebol, atende melhor esse requesito exigido na luta de competição
      (shiai kumite) (Fernandes Filho, Ramos e Andreoli, 2002).
 Quando prescrever o treino de força o professor deve se preocupar
      com a ação da gravidade incidindo sobre o exercício
      com halter, barra e anilha e tornozeleira com o intuito de ocasionar máximo
      esforço na execução da atividade (Costa, 1996).
 Os exercícios de musculação para o treino de força
      máxima e força rápida, podem ser citados exercícios
      básicos de musculação que desenvolvem tais capacidades
      motoras, cujo a mesma poderá ser executada de forma balística
      ou não, dependendo-se da força específica a ser trabalhada.
      Para descrever a maneira de execução dos exercícios
      citados, baseou-se em Esquerdo (2010):
 Agachamento livre com halter pequeno com anilha: Em pé com os pés
      levemente mais separados que o quadril, segurando o halter pequeno com
      anilha (Obs.: não coloque a barra sobre o trapézio e sobre
      o deltóide para evitar significativa compressão na coluna
      vertebral), abaixar flexionando os joelhos e levantar estendendo os joelhos.
      Esse exercício fortalece os músculos da extensão do
      joelho do mae geri e do mawashi geri.
 Afundo ou avanço: Em pé, segurando o halter pequeno com anilha
      (Obs.: não coloque a barra sobre o trapézio e sobre o deltóide
      para evitar significativa compressão na coluna vertebral), avance
      com um passo largo para frente (Obs.: esse avanço também
      pode ser praticado com passo para trás) efetuando flexão
      do joelho e do quadril, enquanto que o membro inferior de trás faz
      extensão do quadril e do joelho. Fortalecimento dos músculos
      do deslocamento na base zenkutsu dachi.
 Supino com halter: Em decúbito dorsal, costas apoiadas, o halter
      deverá ser carregado separado verticalmente ao peito, e levantá-los
      também verticalmente ao centro com os cotovelos perpendiculares
      ao corpo. Fortalecimento dos músculos do soco.
 Arremesso com bola de peso: Segurar uma bola de medicinebol em uma das
      mãos, e arremessá-la simulando um soco, fazer algumas repetições
      no lado esquerdo e no lado direito.
 Simulação do soco com rotação do tronco na
      polia (cross over): Em pé, com as pernas semiflexionadas (uma mais à frente
      da outra) exercício realizado com pegada unilateral na polia, simulando
      um golpe (soco) completando com rotação de tronco (envergadura),
      depois trocar o lado trabalhado. Fortalece os músculos do gyaku
      zuki.
 Descolamento na base zenkutsu dachi: Um karateca segura uma faixa e o outro
      lutador se encontra na “base livre” (base de luta) realizando
      força para se deslocar para frente (Nakayama, 1996), essa atividade
      de segurar a faixa deverá durar por 1 a 30 segundos para estar no
      tempo do metabolismo aláctico e/ou láctico, após esse
      período a faixa será solta e o lutador vai deslocar para
      frente na zenkutsu dachi, momento no qual o karateca realiza um soco (oi
      zuki, kizami zuki e gyaku zuki) e/ou chute (mae geri e mawashi geri). Recomenda-se
      que após o estímulo ocorra pausa ativa ou passiva ou não,
      para simular a luta, merecendo que o intervalo efetuado seja de 2 segundos
      a 4 minutos, duração ocorrida quando o árbitro interrompe
      o shiai kumite (luta de competição) (Oliveira, 2004; Marques
      Junior, 2012b). Esse treino tem o intuito de desenvolver a força
      rápida dos membros inferiores no deslocamento para frente da “base
      livre” para a zenkutsu dachi ou o mesmo treino pode ser feito no
      trabalho de recuo, passando da “base livre” para a zenkutsu
      dachi, efetuando em seguida uma defesa e ao mesmo tempo ou depois um contra-ataque.
      A figura 8 ilustra as explicações.
 Após explicar vários exercícios para o treino de força é oferecido
      uma tabela científica de musculação para o karateca
      do shiai kumite (luta de competição) baseada em várias
      referências (Bacurau e colaboradores, 2001; Badillo e Ayestarán,
      2001; Balsamo e Simão, 2005; Cometti, 2001; DeRenne, Ho e Murphy,
      2001; Deschens e Kraemer, 2002; Fitts, 2003; Fleck e Kraemer, 1999; Goldspink,
      1999; Komi, 1991; Linnamo e colaboradores, 2000; Marques Junior, 2001,
      2005; Newton e colaboradores, 2002; Sale, 1988; Soares e Appell, 1990;
      Tesch, Colliander e Kaiser, 1986; Wilson e colaboradores, 1993).
 
 Figura
      8 baixar o texto para ver na íntegra
 
 Tabela 3 - Tabela científica de musculação
      para prescrever o treino
 
          
            |  | Adaptação (usada nas 1ª semanas) | Força Rápida | Força Máxima Dinâmica   |  
            | % do Peso Máximo | 45 a 65%
 | 30 a 90% |   90 a 100%
 |  
            | Repetições
 | 3 a 10 | 3 a 10
 | 1 a 5 |  
            | Velocidade do Movimento | lenta ou média
 | veloz na concêntrica e lenta
            na excêntrica | lenta |  
            | Séries | 1 a 5 | 1 a 5 | 1 a 5 |  
            | Pausa | 30 segundos a 5 minutos | 30 segundos a 5 minutos | 30 segundos a 5 minutos |  
            | Metabolismo Predominante | Aeróbio ou Aláctico | Aláctico ou Láctico | Aláctico |  
            | Força Predominante
 | - | Neural | Neural |  
            | Fibra Muscular Mais Exigida | IIa e/ou I ou IIb
 | IIb | IIb |  
            | Frequência Semanal
 | 1 a 3
 | 2 a 5 | 2 a 5 |  
            | Recuperação | 48 h (2 dias) | 24 h (1 dia)
 | 24 h (1 dia) |  
            | Hipertrofia Predominante | - | Sarcoplasmática | Miofibrilar |  
            | Adaptações Neuromusculares | 14 dias (coordenação intermuscular) | 14 dias (coordenação intermuscular)1 mês
              e mais 12 dias a 26 dias (coordenação intramuscular)Predomina o aumento da força neural no período de 2 meses e 10
dias.Depois ocorre predomínio dos fatores hipertróficos a partir
de 1 mês e 26 dias a 2 meses e 10 dias.
 | 14 dias (coordenação intermuscular)1 mês e mais 12 dias a 26 dias (coordenação
                intramuscular)
 Predomina o aumento da força neural no período
                de 2 meses e 10
dias.
 Depois ocorre predomínio dos fatores hipertróficos a partir de
1 mês e 26 dias a 2 meses e 10 dias.
 |  
 Treino de força reativa para
          o karateca do shiai kumite
 Alguns estudos como o de Ford e colaboradores (1983) que exercitou
          50 meninos, e Markovic e Newton (2007) numa meta-análise, afirmaram
        que o treino de força reativa através dos saltos resultaram
        em melhora significativa (p=0,05) do salto vertical, da velocidade, da
        força reativa, da agilidade e de outras capacidades motoras que
        são dependentes da força. Além disso, o treino de
        salto em profundidade que é realizado por múltiplos saltos
        com ou sem obstáculos, aumenta a força do chute do karateca,
        por esse motivo é indicado para prescrição dessa
        sessão para o lutador do shiai kumite (Cemnalianskis, 2011), provavelmente
        as respostas positivas na força de karatecas são entendidas
        devido os saltos provocarem inúmeros benefícios nestes,
        tais como: melhora da velocidade, da agilidade, da potência anaeróbia,
        e da economia da corrida (entende-se para o karatê na economia
        do deslocamento da base), porém, para os saltos há necessidade
        de uso de tênis adequado para redução no potencial
        de lesões (Marques Junior, 2009).
 Portanto para o treino de força reativa será explicado
        um exercício para os membros inferiores (salto em profundidade)
        e outro para os membros superiores (flexão de braços):
 a) Salto em profundidade: Inicialmente é determinada a altura
        de queda, em seguida o karateca cai de um caixote, toca com a ponta dos
        pés no solo, salta para cima do caixote e realiza sucessivamente
        esta ação até acabar a série – veja
        exemplo na figura 9. Outra maneira de praticar o salto em profundidade,
        o atleta inicia em pé no solo, saltar por cima de uma barreira
        (Obs.: essa barreira pode ser feita com cano de PVC de 32), cai no solo
        e faz esse ciclo até acabar a série (Verkhoshanski, 1995).
 Entretanto, para determinar a altura do salto, é necessário
        executar antes um exercício de força reativa (Forteza,
        2004), ou seja, a altura utilizada na queda deverá estar de acordo
        com a especificidade da atividade a ser realizada no salto em profundidade.
        O protocolo para descobrir a altura de queda, pode ser definido como
        um teste onde, o indivíduo ao lado de uma parede e as mãos
        sujas de giz, salta por cima de uma barreira ou cai de cima de um caixote,
        quando cair ao solo realiza um salto vertical, tocando na parede com
        as mãos para determinar uma marca, e em seguida deve ocorrer uma
        pausa para restaurar o metabolismo anaeróbio aláctico (ver
        tabela 1). O salto vertical (SV) é estabelecido pelo seguinte
        cálculo: SV = Alcance no salto vertical – Envergadura lateral
        = Impulsão em cm. Em caso de resultados próximos entre
        duas ou mais alturas de queda, opte pela maior altura de queda (Marques
        Junior, 2005b).
 Figura
        9 baixar o texto para ver na íntegra 
 b) Flexão de braço: A posição inicial consiste
        que o praticante fique em decúbito ventral e pés unidos,
        olhando para solo e com as mãos separadas levemente a uma distância
        entre os ombros e com os cotovelos estendidos (Esquerdo, 2010).
 Em seguida, o karateca faz uma rápida flexão do cotovelo
        e extensão do ombro, vindo efetuar imediatamente extensão
        do cotovelo e flexão do ombro com um impulso forte que ocasiona
        a saída das mãos do solo, retornando imediatamente para
        o mesmo (Bompa, 2004; Zakharov, 1992). Todo esse ciclo se repete até terminar
        o número de repetições. O intuito desse trabalho é aumentar
        a força reativa dos membros superiores, ocasionando aumento da
        força do soco. A figura 10 ilustra as explicações.
 Após explicar sobre o treino de força reativa é oferecido
        uma tabela científica dessa sessão para o karateca do shiai
        kumite (luta de competição) baseado em várias referências
        (Badillo e Ayestarán, 2001; Bobbert, 1990; Delecluse e colaboradores,
        1995; Horita e colaboradores, 1999; Komi, 1991, 2000; Marques Junior,
        2005, 2006, 2009; Malisoux e colaboradores, 2006; Sale, 1988; Verkhoshanski,
        1998; Wilson e colaboradores, 1993; Young, Wilson e Byrne, 1999; Zakharov,
        1992).
 Figura
        10 baixar o texto para ver na íntegra  Tabela 4 - Tabela científica de
        força reativa para prescrever o treino 
          
            |  | Adaptação (usada nas 1ª semanas) | Iniciação (usado após a adaptação) | Força Rápida | Força Máxima Dinâmica |  
            | Altura de Queda para o Membro Inferior | Menos de 20 cm | 20 a 49 cm | 50 a 75 cm | 76 a 110 cm |  
            | Altura de Queda para o Membro Superior
 | sem altura | 5 a 10 cm | 11 a 20 cm | 21 a 30 cm |  
            | Séries | 1 a 4 | 1 a 4 | 1 a 4 | 1 a 4 |  
            | Repetições | 3 a 10 | 3 a 10 | 3 a 10 | 3 a 10 |  
            | Velocidade do Movimento | máxima | máxima | máxima | máxima |  
            | Pausa e Ação
 
   | 30 segundos a 10 minutos Membro Inferior: andar
 Membro Superior: balanceio
 
 
 
 
 | 30 segundos a 10 minutos Membro Inferior: andar
 Membro Superior: balanceio
 
 
 
 | 30 segundos a 10 minutos Membro Inferior: andar
 Membro Superior: balanceio
 | 30 segundos a 10 minutos Membro Inferior: andar
 Membro Superior: balanceio
 |  
            | Metabolismo Predominante | Aláctico | Aláctico | Aláctico | Aláctico |  
            | Fibra Muscular Mais Exigida | IIb | IIb | IIb | IIb |  
            | Frequência Semanal
 | 1 a 2 | 1 a 3 | 2 a 3 | 2 a 3 |  
            | Recuperação | 48 a 72 h (2 a 3 dias) | 24 a 48 h (1 a 2 dias) | 48 h (2 dias) | 72 h (3 dias) |  
            | Força Predominante | Neural | Neural | Neural | Neural |  
            | Hipertrofia Predominante | Sarcoplasmática | Sarcoplasmática | Sarcoplasmática | Sarcoplasmática |      Treino de soco e/ou de chute no makiwara
          e treino de chute e/ou de soco no sunatawara para o karateca do shiai
          kumiteO princípio da especificidade ensina que o treino precisa estar
          relacionado com as características do esporte, ou seja, ambiente
          da disputa – torcida, esforços iguais ao da competição – metabólico,
          neuromuscular etc, gesto esportivo no treino físico igual ao
          similar ao da modalidade e outros (Barbanti, 2010; Dantas, 1995). Portanto,
        Tubino e Moreira (2003) concluíram:
 
 Para desenvolver qualquer fator determinante de uma performance é preciso
        trabalhá-lo especificamente (p. 111).
 Por exemplo, Augustsson e colaboradores (1998) treinaram um grupo que
        realizou exercício de cadeia cinética aberta (n = 10, cadeira
        extensora do joelho e cadeira adutora) e de cadeia cinética fechada
        (n = 11, agachamento com barra longa e anilha). Cada grupo praticou 4
        séries de 8 a 12 repetições, com carga de 75% em
        relação ao peso máximo para o grupo de cadeia cinética
        fechada e o grupo de cadeia cinética aberta teve o peso ajustado
        em relação aos resultados do teste de peso máximo
        por repetição, com no máximo 5 kg de carga.
 Após 6 semanas, ocorreu melhora significativa (p=0,05) do salto
        vertical do grupo de cadeia cinética fechada (agachamento) entre
        o pré (48,2 ± 9,7 cm) e o pós-teste (53,1 ± 11,6
        cm), e o mesmo não ocorreu no grupo de cadeia cinética
        aberta (pré-teste = 50,4 ± 9,2 cm, e pós-teste =
        53,8 ± 10,3 cm). Os autores concluíram que o grupo de cadeia
        cinética fechada (agachamento) obteve ganho no salto vertical
        porque essa atividade é específica para a execução
        da elevação do centro de gravidade, ou seja, os mesmos
        movimentos articulares dos membros inferiores do agachamento são
        iguais ao do salto vertical.
 Então, sabendo que o treino de força específico
        melhora a força da técnica esportiva, torna-se essencial
        o treino de soco e/ou de chute no makiwara (madeira na vertical que se
        encontra fixada no solo com uma proteção de borracha na
        região do soco e/ou do chute) e no sunatawara (saco de areia).
 Segundo Cox (1993), karatecas da faixa preta efetuam um soco com uma
        força equivalente a 306,18 quilogramas (kg), enquanto que os lutadores
        de karatê da faixa preta que praticam regularmente o soco no makiwara
        possuem uma força no soco de 680,4 kg. Importante também
        dizer que o soco no makiwara provavelmente viabiliza uma breve pronação
        de antebraço, tendo uma utilidade considerável, tendo em
        vista que o tempo de realização do soco acaba sendo reduzido
        (Vencesbrito, 2012).
 No karatê shotokan, o sunatawara (saco de areia) pode ser utilizado
        para aumentar a força do chute e do soco (Silvares, 1987), mas
        costuma ser mais utilizado para aumentar a força rápida
        do chute.
 Recomenda-se que o karateca dê preferência para exercitar
        no makiwara e no sunatawara os golpes que mais pontuam no shiai kumite
        (luta de competição). Esses socos e chutes já foram
        apresentados na parte 1 do artigo – esforços e biomecânica
        do karateca no shiai kumite, para lembrar o leitor esses golpes são:
        kizami zuki (soco), gyaku zuki (soco), oi zuki (soco), mae geri (chute)
        e mawashi geri (chute) (Ross, 2009).
 Para execução do soco e/ou do chute, o karateca ficará de
        frente para o makiwara (madeira na vertical fixada no solo para aplicar
        os golpes) ou para o sunatawara (saco de pancada) em posição
        de combate, na “base livre”, recomenda-se que o treino de
        chute e/ou de soco seja predominantemente aláctico (1 a 15 segundos)
        e em menor proporção na sessão o sistema láctico
        (16 segundos a 1 minuto e 59 segundos) porque o metabolismo energético
        anaeróbio é mais requerido nas ações de ataque
        e de defesa no shiai kumite (Marques Junior, 2012b).
 Como a sessão de soco e/ou de chute no makiwara e no sunatawara
        merecem ser no metabolismo anaeróbio, a força rápida é a
        mais trabalhada e tendo no final dos golpes uma breve contração
        isométrica, o kime (final do golpe ou da defesa onde toda energia
        mental e física se concentram em uma ação) (D`Elia,
        1984). Durante esse treino de força específica as repetições,
        séries e pausas merecem ser adequadas para trabalhar a força
        rápida e de preferência no sistema anaeróbio aláctico
        (Marques Junior, 2012f).
 Todas essas explicações são para karatecas do shiai
        kumite (luta de competição) a partir da faixa verde (graduados)
        e na idade adulta porque esses lutadores possuem tempo de prática
        para efetuar adequada técnica esportiva no implemento e as chances
        de lesão nesses aparelhos são menores. A tabela 1 expõe
        valores para nortear o treino de soco e/ou de chute no makiwara (madeira
        na vertical fixada no solo para aplicar os golpes) e no sunatawara (saco
        de pancada) para karatecas a partir da faixa verde e para iniciar na
        idade de 13 anos até a idade adulta.
 Após explicar sobre o treino de soco e/ou de chute no makiwara
        e no sunatawara (saco de areia) para o karateca do shiai kumite (luta
        de competição) baseado em algumas referências (Chaabène
        e colaboradores, 2012; Marques Junior, 2012f; Sasaki, 1978; Silvares,
        1987; Souza, 2002; Spiezia e Maffulli, 2010).
 O treino de força específico de soco e/ou de chute no makiwara
        (madeira na vertical fixada no solo para aplicar os golpes) e/ou no sunatawara
        (saco de pancada) em alguns casos, também tem o intuito de melhorar
        as técnicas esportivas de ataque do karateca do shiai kumite (luta
        de competição), a respiração na execução
        do golpe e aumentar a força da técnica ofensiva.
 Caso o foco do treino seja melhorar e/ou aperfeiçoar a técnica
        esportiva de ataque e otimizar a força do golpe, indica-se que
        o karateca utilize no seu treino alguns conteúdos da Aprendizagem
        Motora, com o intuito de atingir melhoras mais rápidos da técnica
        esportiva ofensiva.
 Então, durante o soco e/ou o chute no makiwara (madeira na vertical
        fixada no solo para aplicar os golpes) e no sunatawara (saco de pancada),
        o mestre do karatê que também tem o intuito de otimizar
        a técnica esportiva de ataque e a força do golpe, merece
        segundo Marques Junior (2010), utilizar a prática em bloco, a
        prática aleatória, também denominada de randômica
        e a prática mista (Composta pela prática em bloco e pela
        prática aleatória).
 A prática em bloco acontece com um número de exercícios
        e séries para cada golpe no makiwara e no sunatawara, com uma
        sequência definida, por exemplo, é feita a tarefa A, depois
        a B, ocorre a C e o trabalho prossegue assim por diante até acabar
        a série.
 A figura 11 ilustra a estrutura de uma sessão com a prática
        em bloco durante o gyaku zuki (soco com reversão) no makiwara.
        Nesse exemplo a carga foi em segundos, sendo a seguinte: 100% é igual
        a 3 minutos, logo converte 3 minutos para segundos, sendo 3 minutos vezes
        60 que é igual a 180 segundos.
 Depois o mestre do karatê distribui os 180 segundos como carga
        das atividades. O esforço e pausa de 1:2 foi utilizado nessa prática
        em bloco, logo 20 segundos do estímulo vezes 2 que é igual
        a 40 segundos do tempo de pausa passiva. A relação esforço
        e pausa foram aplicadas no exemplo da figura 11, podendo ser utilizadas
        no soco e/ou no chute no makiwara e no sunatawara conforme o metabolismo
        energético predominante: anaeróbio aláctico (duração
        do estímulo entre 1 a 15 segundos) na relação 1:2
        e/ou 1:3 ou anaeróbio láctico (duração do
        estímulo entre 16 a 30 segundos) na relação 1:2
        e/ou 1:3 e/ou 1:1 (Marques Junior, 2013).
 A pausa do treino de força específico de soco e/ou de chute
        no makiwara e no sunatawara pode ser determinada de outra maneira, podendo
        ser consultada na Tabela 1 desse artigo.
 
 Tabela
        5, Figura 11 e 12 baixar o texto para ver na íntegra
     A prática aleatória ou
          randômica de qualquer treino, como exemplo vai ser utilizado
          o mawashi geri (chute semicircular) no sunatawara (saco de pancada), é sem
          uma ordem de tarefa definida com o intuito de ocasionar uma alta interferência
          contextual porque ocorre uma constante reconstrução da
          memória, dificultando o esquecimento do plano motor. Enquanto
          que na prática em bloco o objetivo é a aquisição
          da técnica esportiva, na prática aleatória o intuito é ocasionar
          retenção da mesma técnica esportiva, nesse exemplo
          o mawashi geri desferido no sunatawara. Por exemplo, o objetivo da
          sessão é melhorar a técnica e aumentar a força
          do mawashi geri no sunatawara, mas o mestre do karatê prescreve
          outras atividades no decorrer da sessão com o intuito de “atrapalhar” a
          memória do lutador na execução da excelência
          da técnica do chute. A figura 12 ilustra a estrutura de uma
          sessão com a prática aleatória durante o mawashi
          geri no sunatawara.A última prática indicada, também é recomendada
          por Marques Junior (2010), ela é composta pela prática
          em bloco e pela prática aleatória, essa prática
          segundo Brady (2004), proporciona boa retenção do conteúdo
          do treino técnico do mawashi geri que também aumentara
          a força do golpe.
 
 Mas porque a melhora da técnica aumenta a força
          do golpe?
 Baseado em Nakayama (2011), quando um karateca do estilo shotokan pratica
          um soco só com o uso dos membros superiores, a força
          do golpe é mínima. Mas quando um soco é efetuado
          com o uso de todo o corpo, que vai dos pés até os braços,
          gera mais força numa única ação. Um dos
          requisitos fundamentais para aumentar a força do ataque ou da
          defesa, é utilizar o “quadril” (Obs.: nomenclatura
          científica denominada de pelve), somando todas as ações
          do corpo.
 Conclui-se que, o treino de soco e/ou de chute no makiwara (madeira
          na vertical fixada no solo para aplicar os golpes) e no sunatawara
          (saco de pancada) aumenta a força, conseguindo ainda mais benefícios
          no incremento da força se a técnica esportiva for cada
          vez melhorada.
 
 Como determinar a melhora da técnica esportiva?
 Consultando Magill (2000), inicialmente deve-se fazer um pré-teste
          para verificar a qualidade da técnica esportiva. Para karatecas
          com poucos recursos financeiros, o ideal que o mestre do karatê observe
          a execução do golpe e marque em um scout a qualidade
          da técnica esportiva (Marques Junior, 2009b). Após alguns
          meses do uso da prática em bloco com o treino de soco e/ou chute
          no makiwara (madeira na vertical fixada no solo para aplicar os golpes)
          e no sunatawara (saco de pancada), recomenda-se nova avaliação,
          o pós-teste, com o intuito de verificar se ocorreu a aquisição.
          Em seguida, o karateca merece continuar a treinar soco e/ou chute no
          makiwara e no sunatawara com a prática aleatória, também
          denominada de randômica e/ou com a prática mista (Composta
          pela prática em bloco e pela prática aleatória).
          Depois de alguns meses de treino, o mestre do karatê merece fazer
          um teste para verificar se ocorreu retenção. Magill (2000)
          indicou o teste de retenção, onde o karateca fica alguns
          dias sem fazer a atividade e torna a realizar soco e/ou chute no makiwara
          e no sunatawara, sendo avaliada a técnica esportiva com o uso
          do scout.
 
 Mas como verificar o aumento da força
          proveniente do treino de soco e/ou de chute no makiwara e no sunatawara?
 Pode-se determinar com a filmagem da técnica de ataque do karateca
          e posteriormente essa filmagem é transferida para o software
          Skill Spector que é oferecido gratuitamente na internet (Marques
          Junior, 2012g). Com o Skill Spector, é possível determinar
          a velocidade linear do golpe e o tempo em segundos do mesmo golpe.
          Sabendo esses valores, é possível estabelecer pelo cálculo
          de Wasik (2011) a força de impacto do chute e/ou do soco, sendo:
 Força do Impacto = [m . (v)²] : [2 . s] = ? N
 Significado das Abreviaturas da Equação
 m: massa (massa corporal total em kg) / v: velocidade máxima
          linear em metros por segundo / s: segundos / N: newton
 
 CONCLUSÃO
 Conclui-se que o treino de força para um atleta de karatê do
          estilo shotokan especialista no shiai kumite (luta de competição),
          para que seja especificamente descrito, deve ser observados suas reais
          particularidades: cinesiologia, biomecânica e fisiologia dos
          movimentos, tempo da luta, tempo da pausa do combate e velocidade dos
          golpes, e que somente após isso consegue-se desenvolver um treinamento
          específico e condizente com a realidade dos lutadores.
 Também foi verificado que para o treino de força poder
          agir de forma significativa para melhorar as capacidades motoras requeridas
          na luta e contribuir para uma melhor performance durante a competição.
 Para os karatecas o treinamento deve conter sessões de musculação
          de força máxima e de força rápida com trabalho
          balístico ou não, o treino de força reativa também
          merece ser praticado através de saltos e de flexões de
          braço, soco no makiwara, chute e/ou soco no sunatawara.
 
 AGRADECIMENTOS
 Os autores do artigo agradecem ao advogado Pedro Ernesto da Silva Leite
          pela elaboração do resumo em inglês. Sem a sua
          preciosa ajuda o resumo em inglês não teria a mesma qualidade.
 
 
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 Ver a lista completa
 Original: Revista
                Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício,
              São Paulo, v.7, n.41, p.506-533. Set/Out. 2013. ISSN 1981-9900. *Mestrando em Ciências
        do Exercício e do Esporte na UGF do RJnk-junior@uol.com.br
 
 ** CONSULTOR CDOF
 Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade
  Gama Filho em Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício.
 E-mail:
 jose_nunes_99@hotmail.com
 Endereço para correspondência:
 Rua Henrique Soro, 6510, AP: 02
 Aponiã –Porto Velho –Rondônia.
 CEP: 76824-074.
  
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